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"ENTRE O PRAGMATISMO E O BOM-MOCISMO"
"Depois dos gestos humanitários que marcaram o início da crise dos refugiados, os governos europeus tentam equilibrar seus princípios éticos com soluções práticas para os efeitos negativos da onda  migratória. O que se viu, até agora, foi puro improviso"


Por: Nathalia Watkins

"De Otto Von Bismarck, estadista prussiano da segunda metade do século XIX, a Henry Kissnger, secretário de Estado americano entre 1973 e 1977, a palavra alemã Realpolitik foi usada para descrever a opção de diplomatas e governantes por politicas pragmáticas, sem idealismos. Em tempos de paz e de bonança é mais fácil ater-se a princípios éticos. A coisa muda de figura quando os fatos teimam em exigir dos governantes duas escolhas. Os líderes europeus estão reaprendendo isso agora que surgem as primeiras consequências negativas da presença de mais de 1 milhão de refugiados que entraram em seus países no ano passado, e que continuam chegando, a maioria proveniente de conflitos na Síria, Iraque e Afeganistão. 'Os cidadãos sentem empatia quando recebem notícias de tragédias humanitárias, mas se preocupam com o custo de ajudar e a dificuldade de integrar os refugiados à sociedade ocidental', diz o cientista político dinamarquês Jorgen Goul Andersen, da Universidade de Aalborg."


"Segundo as pesquisas de opinião, mais da metade dos europeus quer a redução do fluxo migratório. Os crimes cometidos por recém-chegados, como o estupro de um grupo de mulheres na festa de Ano-Novo em Colônia, na Alemanha, e o assassinato de uma funcionária em um centro de acolhimento de imigrantes na Suécia, na segunda-feira 25, são vistos como confirmação dos temores da população. Para fazerem frente a essas preocupações, os governos dos principais destinos dos refugiados estão tentando equilibrar os valores humanitários pelos quais foram elogiados no início da crise migratória com a boa e velha Realpolitik. O resultado tem sido um show de improvisos que destoa da costumeira cooperação entre os integrantes da União Europeia."


"Na esperança de desestimular a chegada de novos aspirantes a asilo, a Dinamarca aprovou uma lei que prevê o confisco de montantes superiores a 1340 euros (cerca de 6 000 reais) dos imigrantes, desde que os bens não tenham valor sentimental para o proprietário (alianças de casamento, por exemplo). 'A Dinamarca obriga seus cidadãos a se sustentar sem a ajuda do Estado caso tenham bens acima desse mesmo valor', diz o cientista político Klaus Petersen, da Universidade do Sul da Dinamarca. A nova regra, portanto, é condizente com a realidade dos cidadãos dinamarqueses, que pagam mais da metade de sua renda em impostos mas em troca recebem benefícios sociais, saúde e educação gratuitos de qualidade. O governo dinamarquês também dificultou a reutilização familiar e a obtenção de visto de residência permanente."


"A Suécia, o país da Europa que mais gasta com refugiados (0,5% do PIB), anunciou que vai deportar entre 60 000 e 80 000 pessoas cujo pedido de asilo foi negado, o que representa quase metade do total de solicitações de 2015. O governo da chanceler Angela Merkel, que no ano passado foi aclamada por negar-se a fechar as fronteiras do país aos deslocados de guerra, propôs, na semana passada, alterar a lei para facilitar a expulsão de estrangeiros condenados à prisão. A polícia alemã registrou mais de 1000 queixas que envolvem imigrantes, a maioria delas de agressões sexuais. Em Borheim, na região de Colônia, refugiados com mais de 18 anos foram proibidos de frequentar as piscinas públicas depois de uma série de casos de assédio. Nada disso é o bastante para reduzir a insatisfação dos cidadãos. Apenas um em cada quatro alemães acha que a questão dos refugiados está sendo bem conduzida pelo governo. 'O sucesso das tentativas de reduzir a massa de refugiados depende da situação de segurança nos países de origem', diz Jacob Jorgensen, da filial dinamarquesa da Organização Internacional para Migração. Ou seja, é preciso solucionar os conflitos da África e do Oriente Médio, o que só será alcançado com mais Realpolitik - e menos improvisos."

COM REPORTAGEM DE PAULA PAULI


A matéria acima foi retirada da revista VEJA - edição: 2 463 - Ano 49 - nº 5, págs. 72 e 73. 03 de fevereiro de 2016. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista VEJA e a Editora Abril.


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