CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA POLÍTICA INTERNACIONAL!


"TRUMP NÃO É DESTE MUNDO"
"A decisão do presidente americano de abandonar o Acordo de Paris deixa os EUA mais isolados diplomaticamente, mas não enterra os esforços para reduzir o aquecimento global"


Por: Johanna Nublat

"O presidente Donald Trump continua a cumprir o que prometeu aos eleitores americanos. O resto do mundo, que obviamente não o elegeu, paga o pato. Na quinta-feira 1º, ele anunciou um desastre: a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris sobre o clima. No discurso que fez nos jardins da Casa Branca, afirmou que o acerto, impulsionado pelo seu antessor, Barack Obama, desvantajoso e ameaçava os empregos industriais dos americanos. 'Esse acordo é menos sobre clima e mais sobre outros países tirando vantagens financeiras dos Estados Unidos', disse Trump, para quem toda a mobilização contra o aquecimento global e seus custos não vale mais do que um saco de carvão.
Assinado em dezembro de 2015 por 195 países (entre as quais o Brasil) mais a União Europeia e a Autoridade Palestina, o Acordo de Paris tem a meta de reduzir as emissões dos gases que provocam o aquecimento global. Os Estados Unidos, o segundo país que mais libera essas substâncias na atmosfera, haviam se comprometido a reduzir, até 2025, suas emissões entre 26% e 28% abaixo dos níveis de 2005. Além disso, os EUA dariam mais 2 bilhões de dólares, afora o 1 bilhão já entregue, para auxiliar as nações em desenvolvimento a cumprir as próprias metas. Trump jogou esse compromisso no lixo. Agora, fala em entrar em outro acordo, com termos mais favoráveis, algo que os países europeus não ser factível. Nos protestos de rua contra a medida nos Estados Unidos, os cartazes mais bem-humorados diziam: 'O planeta não é o seu covfefe'. A palavra 'covfefe', que não existe, aparecera um dia antes em um tuite de Trump, num provável erro de digitação. 'Apesar de toda covfefe negativa da imprensa'. A frase parava por aí, sem conclusão, e passou a simbolizar a ignorância que muitos cidadãos atribuem ao presidente."


"Os desdobramentos de mais essa decisão 'ignorante' de Trump são relativos. Eles dependerão, em grande parte, da atitude dos outros estados americanos, das prefeituras, dos outros países e das empresas. Cerca de trinta estados americanos têm planos próprios para diminuir a emissão de carbono e não vão rasgá-los por causa do presidente. A Califórnia, um dos mais ousados, pretende a emissão de gases de efeito estufa em 40% até 2030, em comparação com os níveis de 1990.
Após o aviso de Trump, nenhum país anunciou que imitará seus passos. Até a China, o maior emissor de gases de efeito estufa, saiu em defesa do acordo e avisou que continuará investindo em crescimento sustentável. Em 2015, os chineses gastaram 103 bilhões de dólares em energias renováveis, mais do que o dobro que desembolsaram os Estados Unidos ou a Europa. No setor privado, Trump também tem poucos seguidores. Em maio e junho, 25 empresas americanas publicaram anúncios em que defendem a permanência no acordo e dizem que continuarão a usar tecnologias limpas. Elas precisam atentar para as exigências dos consumidores e dos acionistas e são obrigadas a seguir as normas estaduais. Só quem comemorou foram as minas de carvão e os eleitores de Trump.
Em resumo, a decisão do presidente dos EUA vai tirar dinheiro dos esforços mundiais para reduzir a emissão de poluentes (não que isso vá fazer muita diferença no Orçamento americano, que já consome mais de 2 bilhões de dólares por ano só em operações militares no Iraque), mas não será capaz de reverter a determinação dos outros países de seguir adiante para atingir esse objetivo. Ao fim e ao cabo, o maior prejudicado será o governo de Trump, que perderá voz em um tema de grande relevância diplomática, cedendo ainda mais espaço à liderança da China."


"Mas além das questões ambientais, atitudes drásticas como essa têm aberto um abismo entre Trump e os principais líderes da Europa. Os analistas mais afoitos já falam até em um 'fim do Ocidente', compreendido com a aliança entre as diplomacias desenvolvidas da América do Norte e Europa. Seu estilo de fazer diplomacia não ajuda. Na semana passada, a chanceler alemã Angela Merkel anunciou que os europeus deveriam assumir o próprio destino. 'O tempo em que podíamos contar totalmente com os outros passou. Percebi isso nos últimos dias', disse ela, referindo-se às declarações feitas na semana anterior por Trump nos encontros da Otan, a aliança militar do Ocidente, e no G7, o bloco dos países mais ricos. Trump queixou-se de que os europeus não gastam o recomendado com a defesa e absteve-se de reafirmar um dos pilares da aliança, o de que um ataque contra um membro exige revido coletivo. Trump também chamou os alemães de 'maus, muito maus' por terem um superávit com os americanos."


"A aliança transatlântica entre os americanos e europeus impera desde a II Guerra Mundial. O estremecimento dessa relação parece desastroso, mas não é tudo isso. 'Ainda não se trata de um divórcio de fato', diz o irlandês Garret Martin, especialista nas relações transatlânticas. Com sua fala, Merkel passou duas mensagens que a ajudarão a ganhar votos nas eleições gerais em setembro, na Alemanha. A primeira é que ela não aceita sermão de Trump. A segunda é que não há melhor que ela para assumir a liderança regional no futuro. O distanciamento pode ter efeitos negativos sobre o comércio e o meio ambiente, mas, em questões de segurança e contraterrorismo, espera-se que Estados Unidos e Europa Ocidental continuem lado a lado."


A matéria acima foi retirada da revista VEJA - Edição 2533 - Ano 50 - nº 23, págs. 74, 75, 76 e 77. 07 de junho de 2017. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista VEJA e a Editora Abril.


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