CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA MUNDO ANIMAL!


"OS INSETOS ESTÃO SUMINDO"
"Um estudo alemão que reuniu dados de quase três décadas confirma: o número de insetos voadores está caindo substancialmente. O fenômeno é mundial e tem profundas implicações para a vida na Terra"


Por: Evanildo da Silveira

"Muitos insetos voadores são bichinhos que incomodam. Eles esvoaçam em torno das pessoas, zunem, dão picadas e um grande número deles pode causar ou transmitir doenças. Por isso, o resultado de um estudo realizado durante 27 anos na Alemanha, que aponta queda de três quartos no volume deles, pode parecer uma boa notícia para muita gente. Mas na verdade não há o que comemorar. De todas as espécies de animais conhecidas, mais da metade são desses invertebrados. Só por isso já seriam importantes, mas eles são ainda responsáveis pela polinização de 80% das plantas silvestres e de 84% das culturas agrícolas, e servem de comida para 60% dos pássaros, além de alimentarem pequenos mamíferos, répteis, anfíbios e até peixes.
O estudo alemão foi feito pela Sociedade Entomológica de Krefeld entre 1989 e 2016, e seus resultados divulgados em outubro, alarmaram os cientistas. Durante esses 27 anos, os pesquisadores coletaram insetos em 63 áreas de proteção ambiental do país. Eles constataram que, ao longo desse período, a biomassa total dos voadores caiu 76% em comparação a 1989, chegando a 82% no meio do verão, quando eles estão mais ativos.
O tamanho da queda surpreendeu os cientistas. 'Há muito tempo já se suspeitava desse redução, mas a pesquisa mostrou que ela é muito maior do que imaginávamos', disse Carpar Hallmann, da Universidade Rdboud, na Holanda, um dos autores do trabalho, na ocasião da sua divulgação. De acordo com ele, levantamentos anteriores já haviam detectado um declínio da diversidade e da abundância dos insetos, mas isso se limitava a uma ou outra espécie ou grupo taxonômico, enquanto o estudo de que fez parte monitorou a biomassa de todos os tipos ao longo de um período extenso."


"AMEAÇA GLOBAL"

"Segundo a bióloga Helena Piccoli Romanowski, do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na Europa e na América do Norte são realizados monitoramentos para alguns grupos de insetos há décadas. Existem evidências que apoiam a ideia de que as populações deles estão ameaçadas globalmente. 'Por exemplo, um estudo de 2014 indicou um declínio de 45% na abundância desses invertebrados na maioria dos locais monitorados em todo o mundo', diz. 'Estima-se que as populações europeias de borboletas - certamente o grupo mais bem estruturado - tenham diminuído em 50% nas últimas duas ou três décadas. Dados para abelhas e mariposas também apontam nessa direção'."


"Um exemplo desses estudos foi divulgado em 2013, nos Estados Unidos. Cinquenta pesquisadores analisaram dados sobre insetos polinizadores silvestres, coletados em 600 áreas de cultivos de frutas ou café em 20 países. Eles observaram que esses animais são melhores polinizadores do que as abelhas domésticas e que a diminuição deles, devido à perda de seu habitat pelo aquecimento global, ameaça a produção agrícola mundial.
Na Espanha, cientistas do Centro de Pesquisas Ecológicas e Aplicações Florestais e do Museu de Ciências Naturais de Granollers (Barcelona) estudaram, durante mais de duas décadas, 66 das 200 espécies de borboletas presentes na Catalunha. Eles verificaram que cerca de três quartos delas estão em declínio, conclusão que pode ser extrapolada para o resto da Espanha. 'A redução é alarmante e aumenta a cada ano', declarou recentemente Constantin Stefanescu, um dos cientistas do grupo. 'Também assustam os dados de 2015 e 2016, os mais baixos registrados desde 1994'."


"No Brasil, os estudos são ainda insuficientes, mas vêm crescendo. As pesquisas, desenvolvidas principalmente por instituições públicas de ensino superior, aumentaram muito nas últimas décadas e tem gerado muitos dados', diz Helena. 'Mas ainda existe muito mais o que conhecer do que já sabemos'. Por motivos óbvios, segundo ela, como a falta de recursos e as imensas distâncias do país, a maior parte do que se conhece é sobre a fauna que vive próxima aos centros de pesquisas. 'Mesmo assim, graças a iniciativas de fenômenos de órgãos públicos direcionadas ao conhecimento dela, um progresso substancial tem sido feito', conta. 'O que é lamentável é o retrocesso que está acontecendo nesse momento, com cortes de financiamento'."


"COMUNIDADE DIZIMADA"

"Para Helena, o estudo feito na Alemanha é extremamente importante e os resultados revelados preocupam. A queda registrada excede o declínio estimado de 58% na abundância global de vertebrados selvagens ao longo de um período de 42 anos encerrado em 2012. 'O resultado é mais dramático quando levamos em conta que não são apenas as espécies vulneráveis, mas a comunidade de insetos voadores como um todo, que foi dizimada nas últimas décadas', diz. 'Além disso, o trabalho foi realizado em áreas de proteção da natureza, que seriam destinadas a preservar as funções do ecossistema e a biodiversidade, e o declínio não é específico para determinados tipos de habitat'."


"Entre as principais causas relacionadas à diminuição dos insetos ao redor do mundo estão a transformação e a destruição dos seus habitats. No caso do estudo feito na Alemanha, os pesquisadores não apontam uma causa específica para o que verificaram. Eles descartaram, no entanto, qualquer relação do fenômeno com o tipo de habitat ou com as mudanças climáticas. Embora não tenham coletado dados sobre pesticidas, esses produtos estão entre os principais suspeitos, pois 94% das áreas protegidas onde foi realizado o trabalho são cercadas por plantações. Para os pesquisadores, há fatores de grande escala envolvidos, mas que são eles apenas novas pesquisas poderão dizer.

"É praticamente impossível imaginar vida humana sem os insetos. Além da polinização e de servirem de alimentos para outros animais, eles são cruciais na dinâmica das populações de vegetais. Desempenham um papel muito importante na formação e manutenção da estrutura do solo e na decomposição de matéria orgânica, permitindo que os nutrientes voltem à terra e sejam aproveitados pelas plantas. 'Esses invertebrados também são fundamentais para a produção de alimentos para as pessoas, já que a maioria de nossa culturas depende deles para a polinização, para produção de frutos e sementes', explica Helena. 'Eles viveriam sem problemas na ausência da humanidade, mas nós não sobreviveríamos sem eles'."


A matéria acima foi retirada da revista PLANETA - Edição 537, págs. 22, 23, 24 e 25. Janeiro/Fevereiro de 2018. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista PLANETA e à Editora Três.


SUGESTÃO

Após a leitura, sugerimos que você assista a este pequeno vídeo do canal do YouTube, Kuzzula, que comenta com imagens, o estudo feito na Alemanha sobre a diminuição dos insetos. O idioma é o português.


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