CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA SOCIEDADE!


"UM TESTE DE HOSPITALIDADE"
"Um incêndio criminoso contra venezuelanos e a reação das autoridades à crise migratória em Roraima escancaram a falta de uma política consistente para os refugiados no Brasil"


Por: Duda Teixeira

"Só neste ano, o Estado de Roraima já recebeu quase 18 000 venezuelanos, que escolheram morar no Brasil para fugir da fome, da falência do sistema de saúde, da criminalidade nas ruas e da repressão estatal. Na segunda-feira 12, o presidente Michel Temer resolver ver a diáspora venezuelana mais de perto. Em Boa Vista, onde ficou por cerca de quatro horas, Temer prometeu aumentar os repasses federais para que Roraima possa lidar com a crise, falou em instalar um hospital de campanha, centros de triagem e reforçar a fronteira com a ajuda das Forças Armadas. Em seu discurso, deu uma no cravo e outra na ferradura, ao tratar os venezuelanos como 'problema' e dizer que o Brasil não lhes fechará as fronteiras: 'Os venezuelanos vão criar problemas para outros estados brasileiros se não tomarmos providências. Este é o aspecto principal. Precisamos preservar as fronteiras e os empregos dos brasileiros, mas não podemos deixar de receber os refugiados que vêm para cá em situação de miserabilidade absoluta'. Há meses o senador Romero Jucá, do MDB de Roraima, aliado de Temer, repete um discurso menos ambíguo. Jucá prega o fechamento das fronteiras e a 'interiorização', ou seja, um eufemismo para o envio de venezuelanos a outros estados brasileiros. Nenhuma palavra sobre como integrá-los a sociedade.
A diáspora venezuelana alcançou uma dimensão impossível de ser ignorada. Quase 60 000 pessoas deixam a Venezuela todos os meses rumo a países vizinhos. A Colômbia recebe a maior parcela dos refugiados, mas o Brasil não fica muito atrás. Com os 18 000 que foram para Roraima só em 2018, essa onda humana já é comparável à dos desesperados que se lançam ao Mar do Mediterrâneo em botes infláveis e barcos rumo ao sul da Itália no auge da crime migratória europeia de 2015.
Na capital, Boa Vista, com 330 000 pessoas, vivem 40 000 venezuelanos, o equivalente a 12% da população. Em todo o estado, 17 000 solicitaram oficialmente refúgio ao governo brasileiro em 2017. Até agora, nenhum foi concedido. Muitos dormem em ginásios esportivos ou ao relento em praças. De dia, pedem dinheiro e emprego nos semáforos com cartazes em espanhol. Com tudo isso, a chegada em massa de venezuelanos tem apresentado um teste para o Brasil, que se considera hospitaleiro, mas, na realidade, não vê como positiva a vinda de trabalhadores de países pobres que competem por empregos de baixa qualificação."


"De tempos em tempos, a presença dessa massa de desamparados leva a reações agressivas por parte do restante da população. 'Como quem mais anda de bicicleta na cidade são os venezuelanos, já vi até motoristas revoltados jogar o carro contra eles', diz o juiz Oswaldo Ponce, refugiado político que toca harpa e violão em Boa Vista. No início de fevereiro, duas casas habitadas por venezuelanos foram incendiadas. O guianense Gordon Fowler foi detido em flagrante e acusado de tentativa de homicídio. Ele disse que teve um desentendimento com os venezuelanos e que acabou 'tomando raiva' deles. Guiana e Venezuela têm um histórico conflituoso. No entanto, os venezuelanos de Roraima ouvidos por VEJA não têm dúvida de que o episódio é mais uma manifestação de xenofobia que enfrentam diariamente."


A matéria acima foi retirada da revista VEJA - Edição 2570 - Ano 51 - nº 8. 21 de fevereiro de 2018. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista VEJA e à Editora Abril.


SUGESTÃO

Após a leitura, sugerimos que assista a reportagem do programa Domingo Espetacular, da RecordTV, que explica e relata a situação dos refugiados venezuelanos que chegam ao Brasil pelas fronteiras do país. As imagens são do YouTube, e o idioma é o português.


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