CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA ALIMENTAÇÃO!


"ADOCE SUA SAÚDE COM MEL"
"Ele tem longa tradição na mesa da humanidade, mas seu consumo ainda é restrito entre os brasileiros. Chegou a hora de valorizar o produto das abelhas e apreender a escolher direito - seus pratos ficarão ainda mais saborosos e a proteção contra doenças ganhará um reforço"


Por: Diogo Sponchiato e Thaís Maka Rini [texto] 
        Juliana Duarte [reportagem]
        Letícia Raposo design]
        Dercílio [fotos]
        Ana Cossermelli, Mayla Ta Nferri e Thiago Almeida [ilustrações]

"O mel é um daqueles exemplo de quão engenhosa é a natureza. O trabalho das abelhas nas matas tem rendido, há milhares de anos, uma mistura tão apreciada pelo homem que o alimento ganhou status de sagrado - venerado na Antiguidade, citado na Bíblia e no Alcorão, presenteado pelos judeus como símbolo de um doce ano novo... No passado remoto, era o ser humano que se embrenhava na floresta para caçar as colmeias. Mas o desenvolvimento da apicultura facilitou o caminho até os potes. Potes que, se guardavam mel de verdade, reúnem cerca de 200 substâncias, entre glicose, frutose, água, vitaminas e fitoquímicos. É esse líquido de ingredientes que transforma o produto em uma tremenda fonte de energia e lhe concede propriedades medicinais. É que os egípcios, gregos e indianos registraram em seus manuscritos hoje tem sido analisado (e validado) pela ciência.
Que o diga seu poder de afugentar infecções, tema de um estudo apresentado pela pesquisadora Susan Meschwitz no último encontro da Sociedade Americana de Química. De acordo com seus laboratórios, o mel é um petardo antibacteriano. 'Sua combinação de componentes e características não só ajuda a desidratar as bactérias como perturba a comunicação entre elas, o que favoreceria a ação de antibióticos', explica Susan. Não por menos, houve quem dissesse que o mel seria uma fórmula simples e natural de combate à resistência bacteriana.
Além de desarticular micróbios nocivos, o consumo regular do produto dá uma espécie de upgrade no sistema imune. Uma revisão publicada pelo cientista malaio Nor Hayati Othman no periódico Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine assinala que o mel estimula a produção de anticorpos e a atividade de células de defesa, assim como reduz os danos dos radicais livres. Por isso, mais que prevenir gripes e resfriados, ajudaria a espantar tumores."


"O potencial anticâncer, ainda sob investigação, teria a ver também com outros dois efeitos do alimento. Alguns de seus componentes - e muitos deles vêm das floradas de onde a abelha recolhe matéria-prima para as colmeias - auxiliam a conter processos inflamatórios e reparar lesões, sobretudo no aparelho digestivos, fatores que impulsionam o surgimento de tumores. 'O mel ainda possui compostos pré-bióticos, isto é, que alimentam e regulam a flora intestinal', nota a nutricionista Fátima Domingues, da rede de hospitais São Camilo, na capital paulista. Ora, uma flora equilibrada e um intestino sem preguiça tornam as idas ao banheiro menos penosas e deixam o cenário pouco propício a um câncer naquelas redondezas.
Outro problema de saúde pública que seria alvo da ingestão mais frequente de mel e a doença cardiovascular. Quem deixa o açúcar branco de lado e prioriza a obra das abelhas ficaria com taxas mais favoráveis de colesterol. É que o dá para tirar de conclusão de experimentos feitos em ratos - bichos que, a despeito da aparência, têm muitas semelhanças fisiológicas com a nossa espécie. Um dos trabalhos mais recentes, da Universidade do Estado de Anambra, na Nigéria, constatou mudanças significativas no perfil lipídico dos bichos após um período de consumo de quase cinco meses. Mas, para cravar que a mistura de fato faz um faxina das artérias, temos de aguardar os resultados de estudos maiores - e com gente de verdade."


"DOÇURA QUE PESA MENOS"

"Se há uma maneira inteligente de consumir mel, essa é usá-la como substitutivo do açúcar de mesa', adianta o nutricionista Mark Kern, da Universidade do Estado de San Diego, nos Estados Unidos. É um conselho que vale especialmente para nós brasileiros. Até pela cultura canavieira que imperou no país, o açúcar refinado tem lugar cativo à nossa mesa. Já o mel... Embora faltem dados oficiais, estima-se uma ingestão de 120 gramas por habitante por ano. Em solo americano e europeu, esse número supera 1 quilo. Seguir o exemplo dos gringos, sem cometer abusos, seria interessante inclusive em termos de peso. 'Enquanto 100 gramas de açúcar contém 400 calorias, a mesma quantidade de mel possui cerca de 290. É uma redução considerável e que, dentro de uma dieta, faz diferença', diz Fátima. Mas o professor Kern que as vantagens da troca vai além..."


"Para verificar o efeito engordativo da sacarose, base do açúcar branco, e do mel, Kern comparou a ingestão de ambas as fontes de doçura em animais durante 33 dias. As cobaias que receberam mel apresentaram um ganho de peso 14,7% menor em relação às do grupo do açúcar. De acordo com o estudioso, além de oferecer componentes bioativos benéficos, o produto das abelhas tende a proporcionar maior sensação de saciedade, o que não estimularia gulodices entre as refeições."


"Claro que não adianta fazer a substituição e carregar nas colheradas. Lembre-se o mel é um tanto calórico. 'Alguns tipos são tão saborosos que o indivíduo acaba consumindo em maior quantidade', observa Maria Auxiliadora Fernandes, professora de nutrição da Escola Técnica Estadual Getúlio Vargas, em São Paulo. Segundo Constantino Zara Filho, presidente da Associação Paulista de Apicultores e Criadores de Abelhas Melíficas Europeias (Apacame), o ideal é distribuir a ingestão ao longo do dia em pequenas doses, até para evitar possíveis desconfortos. E se tiver que escolher uma refeição para privilegiar o alimento... 'O café da manhã é o mais indicado, já que ele oferece muita energia', diz o professor de apicultura Adhemar Pegoraro, da Universidade Federal do Paraná."


"E quem tem diabetes? Pode se render ao pote com moderação? Os especialistas dizem que, se a glicemia estiver sob controle e o médico autorizar, tudo bem. Desde que entre mesmo no lugar de outra fonte de açúcar ou carboidrato. Aliás, um experimento egípcio com 20 portadores de diabetes tipo 1 revela que o mel seria a melhor forma natural de adoçar as refeições. 'Há indícios de que, além de modular a glicose no sangue, teríamos efeitos positivos sobre as células produtoras de insulina no pâncreas', conta o pediatra e autor do trabalho, Mamdouth Abdulfhman. O pesquisador acredita que o mesmo tende a ocorrer nos diabéticos do tipo 2."


"Obviamente, pessoas com diabetes descompensado devem evitar o mel. E ao campo das contraindicações ainda entram as crianças com menos de 1 ano. De acordo com o nutricionista José Augusto Sattler, mestre em ciências dos alimentos pela Universidade de São Paulo, o motivo reside na imaturidade do sistema digestivo delas e na possibilidade de o produto esconder a bactéria causadora do botulismo infantil."


"O sabor, a consistência e as propriedades do mel dependem da espécie de abelha, das matas e da região onde eles são produzidos. Por isso há uma infinidade de tipos - e os benefícios variam. É marcante a diferença entre um mel de abelha comum, mais doce e denso, e o feito pelas abelhas jataí (um patrimônio nacional), que é mais líquido e azedinho. As flores usadas por elas também influenciam o que o pote carrega. 'Quando sugam seu néctar, os insetos fazem o mesmo com as propriedades da planta, que são transferidas para o mel', explica Zana Filho.
Mas é preciso ficar atento no mercado, nas feiras e nas ruas. Há muito falso mel por aí. 'E não adiante se guiar pelo preço', avisa Beatriz Pamplona, sócia-proprietária da loja Novo Mel, em São Paulo. Como é muito difícil para um leigo distinguir, existem algumas orientações básicas. Umas delas é procurar produtos ou estabelecimentos confiáveis, que trabalham especialmente com esses produtos. 'É importante verificar no rótulo se há o carimbo do Ministério da Agricultura', lembra Pegoraro. Nesse ponto, porém, há certa controvérsia, uma vez que agricultores alegam ter dificuldades para receber o selo federal. Em nota a SAÚDE, o Ministério da Agricultura informa que todo e qualquer mel brasileiro é passível de registro - se passar pelo protocolo todo, recebe o carimbo."


"O apelo gastronômico ganha força no Brasil com o lançamento de novas variedades e das linhas gourmet. 'A ideia é valorizar as características regionais e sazonais do nosso mel, mostrar que ele tem espaço em vários pratos e acabar com o conceito de que se deve tomar uma colher só quando está gripado', diz o empresário Eugênio Basue, também da Mbee. Esse presente das abelhas cai bem no iogurte, em molhos, com frutas... e casa perfeitamente com queijos e vinhos. Experimente. Se você não pecar pela gula, a combinação é divina - inclusive para a sua saúde."


A matéria acima foi retirada da revista SAÚDE - Edição 385, págs. 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36 e 37. Dezembro de 2014. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista SAÚDE e à Editora Abril.

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