CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA ALIMENTAÇÃO!


"O BOOM DO VEGANISMO"
"Esse estilo de vida ganha cada vez mais adeptos - seja pela compaixão pelos animais, preocupações ambientais ou questão de saúde. Apesar do crescimento, quem decide não consumir nenhum produto de origem animal tem muitos desafios pelo caminho. A boa notícia é que com criatividade dá pra tirar de letra!"


Por: Kaká Fernandes

"Os números não deixam mentir: são quase 5 milhões de pessoas que se declaram veganas - apesar de não existirem dados oficiais sobre isso. De acordo com a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), o mercado de produtos veganos tem crescido cerca de 40% ao ano. A mudança de hábitos, especialmente dos jovens, que vêm buscando um estilo de vida mais consciente, saudável e sustentável, é um dos principais fatores motivacionais. Quem se declara vegano não consome nem utiliza nenhum produto de origem animal. Na prática, não come nenhum tipo de carne, leite, queijos, ovos, mel, banha e manteiga, não usa cosméticos testados ou que contenham componentes animais na formulação - como sabonete de glicerina e cremes à base de cera de abelha - e nem veste roupas ou sapatos feitos de couro, seda e lã."

"NÃO CONFUNDA"

"As palavras vegano e vegetariano não são sinônimos, e o erro é mais comum do que se imagina - até mesmo por quem adota uma dieta sem carne. O veganismo, como já foi dito, é um estilo de vida, vai além da alimentação. Já o vegetarianismo é um regime alimentar que exclui a proteína animal da dieta. Dentro deste último, há subtipos: os vegetarianos estritos, que não consomem nenhum tipo de carne, laticínio ou ovos; os lactovegetarianos, que permitem os laticínios; e os ovolactovegetarianos, que consomem laticínios e ovos. Apesar da restrição na alimentação, eles não se abstêm de produtos que são feitos com derivados dos animais, como roupas e itens de higiene pessoal. 'Lembre-se: o vegano é um vegetariano, mas o vegetariano pode não ser um vegano', atenta Noemy Israel, nutricionista especializada em dieta vegetariana e vegana, de Brasília (DF)."

"POR UM MUNDO MELHOR"

"Além de respeitar os animais, o veganismo contribui para a preservação do meio ambiente. Alguns pesquisadores afirmam que, se até o ano de 2050 a população mundial se tornar vegana, a emissão de gases poluentes na atmosfera diminuirá em 70%. A justificativa é que, durante a digestão dos bovinos, há a liberação de gás metano, que contribui para o efeito estufa. 'A pecuária é a principal responsável pelo desmatamento na Amazônia e, também, a atividade que mais consome água', acrescenta Flama Borges de Mendonça, nutricionista funcional especializada em nutrição vegana e vegetariana, de Brasília (DF). Outro ponto que os adeptos dessa filosofia destacam é a quantidade de grãos - como soja e milho - utilizada para o consumo dos animais, que poderia ser direcionada para minimizar a fome no mundo."

"ESCOLHA CONSCIENTE"

"É difícil afirmar como acontece a transição na maioria dos casos. 'Algumas pessoas tomam a decisão e pronto. Outras mudam os hábitos aos poucos', comenta Camila Laranja, nutricionista funcional, de São Paulo (SP), que ressalta a importância de fazer isso no seu tempo, respeitando o seu organismo e se informando bem sobre o assunto antes. Há também aqueles que já são vegetarianos e passam a não consumir mais nada animal. Muitas pessoas ainda embarcam por modismo - acham cool ou pensam que irão emagrecer -, mas, para os especialistas, dificilmente esse grupo consegue manter esse estilo de vida. 'É necessário muito mais do que abdicar de carne para ser vegano', enfatiza Noemy."


"NÃO É TÃO DIFÍCIL QUANTO PARECE"

"Apesar de todas as adaptações que são necessárias no dia a dia e a oferta de produtos veganos ainda ser menor em relação aos convencionais, é a falta de informação o maior obstáculo para que mais pessoas integrem o movimento. Na questão da alimentação, a dieta vegana é baseada em frutas, verduras, legumes, grãos, sementes e oleaginosas. A maior dificuldade é para quem não cozinha. Nem todos conseguem encontrar produtos industrializados com facilidade, especialmente fora dos grandes centros urbanos. Com relação ao preço, esse é outro ponto polêmico. 'A alimentação vegana - baseada em plantas - costuma ser mais barata que a carnívora. No entanto, os produtos industrializados realmente saem mais caro', atenta Noemy Israel. Breno Bittencourt, CEO da Souvie, marca de cosméticos vegana, de São Paulo (SP), confirma: 'Apesar do crescimento, esse mercado ainda não tem a mesma oferta de matérias-primas quando comparado aos produtos convencionais. Mas, quando levamos em consideração o custo-benefício, eles levam vantagem por respeitarem os consumidores, o meio ambiente e, muitos vezes, oferecerem ingredientes de qualidade superior'."

"PARTE COMPLICADA"

"Nenhum empecilho é tão desafiante quanto a socialização. Na opinião de todos os entrevistados, é aí que o bicho pega! A cultura brasileira e do mundo, em geral, é muito voltada à carne e aos derivados animais, assim, as críticas ao novo estilo de vida costumam pesar. Sair para comer, ir a uma festa ou participar de um happy hour com os amigos costuma ser um desafio e tanto. A primeira coisa que deve existir é respeito e isso vale para qualquer pessoa, independentemente de ela ser ou não vegana. Em festas familiares ou de amigos, você pode se oferecer para levar um prato vegano. No caso de eventos sociais, você pode avistar o anfitrião da sua escolha. Caso os familiares não entendam a sua decisão, muitas vezes motivados pela preocupação com a saúde, converse com eles, deixando claro o respeito por todos os animais, sua principal motivação, e mostre que é possível, sim, ser saudável."


"MUDANÇA NO PRATO"

"A alimentação costuma ser a primeira coisa que um vegano altera em seu dia a dia. Ele deixa de consumir carne vermelha, frango, peixe, laticínios, ovos, mel e outros ingredientes de origem animal e passa a comer mais leguminosas, frutas, verduras e oleaginosas. 'Carboidratos e lipídios são nutrientes mais facilmente atingidos na dieta vegana', diz Camila Laranja. A falta de proteína animal é sempre questionada, já que a carne é o único alimento que possui todos os aminoácidos essenciais - aqueles que não produzimos e são obtidos por meio da alimentação. Mas isso não é um problema. Segundo Flama Borges, é possível otimizar a síntese proteica combinando um cereal (carboidrato) com uma leguminosa. Bons exemplos são misturar arroz com feijão e macarrão com ervilhas. 'Desse modo, dá para formar uma proteína completa', garante. Para consumir mais ferro, a especialista também recomenda deixar as leguminosas de molho por pelo menos 12 horas. Isso ajuda a eliminar as substâncias que atrapalham a absorção do mineral."


"E AS CARÊNCIAS?"

"Do ponto de vista nutricional, todos os nutrientes necessários podem ser obtidos por meio da dieta. Inclusive, as mudanças no prato refletem diretamente na saúde. Os veganos costumam ingerir alimentos com mais antioxidantes - substâncias que neutralizam a formação de radicais livres. O maior teor de fibras também proporciona um meio intestinal mais rico em bactérias benéficas. Além disso, há uma menor ingestão de gorduras saturadas e maior de poli-saturadas, as chamadas gorduras boas, que têm a capacidade de diminuir os níveis de colesterol ruim (LDL). O único nutriente que deve suplementado é a vitamina B12, que não é encontrada em quantidade suficiente em nenhum alimento de origem vegetal. Normalmente, ela está presente em ovos, carnes, queijos e leite. Ao longo dos anos, a falta de B12 pode elevar o risco de doenças cardiovasculares e de Alzheimer. A quantidade varia de pessoa para pessoa, então, é imprescindível checar o nível de vitamina no corpo para saber exatamente o quanto necessário tomar."

"COMO FICAM OS MÚSCULOS?"

"Ao contrário do que muita gente pensa, ser vegana não impede que a pessoa ganhe massa muscular. Fazendo as substituições adequadas é possível garantir o bom desempenho. Atletas de alto rendimento, como os tenistas Serena e Venus Williams, o strongman Patrik Baboumian, o ex-velocista Carl Lewis, a ex-patinadora Meagan Duhamel e a maratonista Flona Oakes estão aí para comprovar a teoria, já que todos são veganos. 'Da mesma forma que os não veganos, eles devem fazer um acompanhamento alimentar específico', lembra Camila Laranja."


"QUESTÃO DE SAÚDE"

"Outra crença que não confere é de que os veganos têm mais chance de ficarem doentes. O que acontece, na realidade, é que, quando a pessoa toma a decisão de aderir a esse estilo de vida, precisa ficar ainda mais de olho no que coloca no prato, para que nenhum nutriente fique de fora. Por isso é tão importante ler tudo que existe a respeito e procurar a ajuda de um especialista - para fazer as adaptações necessárias e suplementar, caso seja preciso. E quando a pessoa fica doente? Alguns remédios, como os antibióticos, são testados em animais. De acordo com o site Veganismo Brasil, a pessoa deve usar o bom senso. Se a alternativa for os alopáticos, não tem jeito... E você não deve se sentir mal quando não há outra opção. Flama Borges concorda e lembra que para alguns problemas é possível apostar nas terapias alternativas, como fitoterapia, homeopatia e acupunturara."


"PRODUTOS DE BELEZA E HIGIENE"

"O mercado de cosméticos tem crescido e já é possível encontrar produtos para rosto, corpo, mãos e cabelo. 'No nosso portfólio, por exemplo, temos xampu, condicionador, óleo corporal, cremes anti-idade, hidratante, sabonete líquido, creme para as mãos, entre outros', enumera Breno Bittencourt. Já existem lojas especializadas e, para quem não tem acesso, a internet se tornou uma verdadeira aliada. Dá para comprar quase tudo on-line e receber em praticidade qualquer parte do Brasil. Também é importante ficar atenta aos rótulos das embalagens. Sempre que tiver dúvida sobre algum ingrediente, entre em contato com um funcionário ou com o serviço de atendimento ao consumidor da empresa. Para se ter uma ideia, mais de 95% dos sabonetes vendidos nos mercados e perfumarias são feitos de banha animal. A recomendação é trocar pelos confeccionados com glicerina vegetal. Cera de abelha, colágeno, leite, lanolina e ácido hialurônico são outros ingredientes que a indústria de cosméticos utiliza gente não sabe que são derivados de animais. A alternativa é sempre procurar por versões com vegetais. A mesma dica - de checar os ingredientes - vale para os produtos de limpeza."

"ROUPAS E CALÇADOS"

"Couro, seda e lã passam longe do guarda-roupa de um vegano. A saída é comprar peças que sejam feitas de couro vegetal, napa, lona e materiais sintéticos. Mais uma vez, aqui vale o seu direito de questionar o vendedor ou o gerente da loja sobre a origem daquela roupa que está comprando. Verificar a etiqueta também pode ajudar."

"ONDE ENCONTRAR"

"Sem dúvida a oferta de produtos é maior no setor alimentício, mas a indústria de outros setores já está se mexendo. 'Cada vez mais estão investindo em tecnologia e conhecimento para poder desenvolver produtos veganos para suprir essa carência', confirma Breno Bittencourt. Ele ainda acredita que, como aconteceu com os orgânicos, as mudanças nos hábitos alimentares irão criar essa nova cultura. A internet é de grande valia para encontrar produtos, estabelecimentos, restaurantes e receitas. Alguns sites, como Veganismo Brasil e Mapa Veg, disponibilizam essas informações."


"PROCURAR O SELO"

"Para saber se um produto é ou não vegano, você deve procurar pelo selo da Sociedade Vegetariana Brasileira (Certificado SVB Vegano), da The Vegan Society ou, então, do vegan.org. Alguns também só trazem a palavra vegan na embalagem. Mais atenção: não confie apenas nessa informação. 'Algumas empresas colocam esse 'selo' no produto apenas por não conter insumas animais nele. É preciso mais do que isso. Não pode haver nenhum tipo de exploração contra os bichos', explica Flama Borges. Em caso de dúvidas, o melhor mesmo é perguntar, entrando em contato com o SAC ou nas redes sociais das empresas."


A matéria acima foi retirada da revista PENSE LEVE - X Ano 26 - nº 312, págs. 20, 21, 22, 23, 24 e 25. Julho de 2018. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista PENSE LEVE e à Editora Abril.


SUGESTÃO

Abaixo, um pequeno vídeo para você conhecer melhor o veganismo. As imagens são do YouTube, e o idioma é o português.


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