CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA TECNOLOGIA!


"UM TOQUE DE INCLUSÃO"
"A era dos smartphones popularizou o uso de aplicativos que melhoram radicalmente a qualidade de vida das pessoas com necessidades especiais"


Por: André Lopes

"O físico inglês Stephen Hawking (1942-2018) ganhou fama como um dos mais extraordinários astrofísicos da história, tanto por descobertas que elucidaram o funcionamento dos buracos negros quanto por livros best-sellers que explicaram a ciência a leigos, como o já clássico Uma Breve História do Tempo (1988). Mas nenhum de seus feitos seria possível se não fosse a existência de tecnologias que o auxiliaram a interagir com o mundo. Hawking sofria de uma doença degenerativa devastadora, a esclerose lateral amiotrófica, que o confinou a uma cadeira de rodas desde a juventude. Suas limitações se estendiam também à fala. Considerado um dos maiores gênios do século XX, o cientista só era capaz de realizar um leve movimento com a bochecha. Mas o auxílio de tecnologias de captação de movimentos, interligadas à cadeira de rodas, permitia que ele se comunicasse com assistentes e, desse modo, escrevesse obras e formulasse teorias."


"Há pouco mais de uma década, equipamentos como os utilizados por Hawking era raríssimos - e por isso, de acesso limitado. Hoje, em plena era dos smartphones e dos aplicativos, soluções tecnológicas que contribuem decisivamente para o processo de inclusão social de pessoas com necessidades especiais estão, por assim dizer, ao alcance dos dedos, É o caso, por exemplo, do Livox, aplicativo lançado em 2011 pelo analista de sistemas pernambucano Carlos Pereira, que pode ser personalizado de acordo com as demandas de cada cliente. Por 5 000 reais, em média, o programa permite que pessoas com deficiência motora, cognitiva e visual se comuniquem, em um método similar ao que era usado por Hawking. No software, é possível inserir atalhos, como símbolos, fichários e outras imagens, que auxiliam o processo. Emanuel criou o produto por motivação pessoal, para se comunicar com a filha, Clara, que sofre de paralisia cerebral. Desde então, o aplicativo ganhou reconhecimento no setor, sendo usado individualmente e em escolas públicas e privadas voltadas para deficientes. Em 2015, o Livox recebeu da ONU o prêmio World Summit Award Mobile, concedida a inovações na área de dispositivos móveis que tenham fins solidários. Um ano depois, ganhou também o Desafio de Impacto Social, promovido pelo Google, que lhe garantiu um aporte de investimento de 2,2 milhões de reais."



"O mercado global de tecnologias para pessoas com deficiências físicas e intelectuais movimenta em torno de 14 bilhões de dólares anualmente. Até 2024, segundo estimativa da consultoria americana Coherent Market Insights, chegará a 26 bilhões de dólares. O crescimento se dará por dois fatores. Primeiro, devido ao barateamento das inovações. Segundo, pelo aumento da demanda, em consequência do envelhecimento da população. Calcula-se que, até 2050, 2 bilhões de pessoas, na maioria dos idosos, necessitarão do auxílio de ao menos um dispositivo do gênero."



"A americana Maia Scott, parcialmente cega de nascença, tem se beneficiado das novidades digitais. Moradora de São Francisco, na Califórnia, ela recorre no dia a dia ao aplicativo Soundscape para se localizar. Gratuito, o programa, lançado pela Microsoft em fevereiro passado, depois de três anos de desenvolvimento, apoia-se em estímulos sonoros para orientar deficientes visuais pelas ruas e pode ser usado em complemento a outros recursos, como os cães-guia. Funciona como um GPS, porém faz uso apenas do som (quando, por exemplo, Maia se aproxima de seu destino, um apito começa a soar de forma mais intensa; ao se distanciar dele, ocorre o contrário). Uma inovação chamada de 'áudio 3D' também simula o espaço ao redor do usuário. Se o Soundscape adverte, por exemplo, que é preciso virar à direita em uma avenida, o aviso é emitido como se viesse da direita, em relação à posição do deficiente visual. Além disso, o GPS dispõe de endereços de lojas, entre outros estabelecimentos. 'Sinto, com isso, que tenho na mão um guia que fornece as mesmas informações que outros aplicativos de mapeamento disponibilizam a amigos que não são cegos', relata Maia. 'Hoje, consigo ir sozinha, sem dificuldades, a um restaurante que não tinha visitado antes', completa."



"Há atualmente uma vasta gama de ferramentas inclusivas sem custo que podem ser baixadas em qualquer loja de aplicativos de celular ou tablet. Um exemplo é o brasileiro Guiaderodas, criado em 2016 pelo engenheiro paulistano Bruno Mahfiz, que ficou paraplégico aos 17 anos, em 2001, depois da colisão de um ônibus com o carro em que era passageiro. Por meio do programa, cadeirantes podem se informar sobre estabelecimentos adaptados para recebê-los. 'Um dos maiores desafios terão de ser enfrentados ao sair de casa. Foi isso que eu quis solucionar', diz Mahfiz. Como o Guiaderodas não lhe traz ganho direto, ele o mantém com a remuneração que recebe de suas consultorias para empresas interessadas em se tornar mais inclusivas, adaptando seus escritórios para deficientes físicos."


"Essas inovações ajudam meu filho a expandir fronteiras', afirma o universitário paulistano Fábio da Rosa, pai de João Miguel, surdo-mudo de 3 anos.  garoto usa o Hand Talk, aplicativo lançado em 2013 por uma empresa homônima de Maceió. Com ele, surdos-mudos se expressam por meio de um intérprete visual que traduz a língua brasileira de sinais (libras) para português e inglês, e vice-versa. Mais de 200 000 pessoas já utilizam o Hand Talk. 'A família de uma criança surda-muda se esforça para se adaptar às condições do filho; o mundo, no entanto, não faz isso. É a tecnologia que rompe essa barreira', comenta o universitário.
Apesar do avanço e do bateamento dos aplicativos para pessoas com necessidades especiais, ainda existem, atualmente, equipamentos sofisticados que continuam a custar caro. Entretanto, espera-se que já na próxima década eles se tornem populares. Tome-se o caso do exoesqueleto Hybrid Assistive Limb, da empresa japonesa Cyberdyne, no mercado desde fevereiro. Trata-se de uma roupa robótica que auxilia seu usuário a fazer certos movimentos. A roupa é comandada por mínimas ações que a pessoa possa fazer, mesmo que seja com os músculos do rosto. Preço da invenção: 14 000 dólares, no mínimo. Diz o engenheiro carioca Rico Malvar, cientista-chefe global da Microsoft: 'O que é caro hoje certamente vai baratear com o tempo. E, dessa forma, levará à redução do custo de vida de pessoas com deficiência. No fim das contas, está aí um dos objetivos mais nobres da tecnologia: permitir que qualquer indivíduo possa se expressar sem limitações'."


A matéria acima foi retirada da revista VEJA - Edição 2605 - Ano 51 - nº 43. 24 de outubro de 2018. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista VEJA e à Editora Abril.


SUGESTÃO

Após a leitura, sugerimos que assista ao vídeo abaixo, que fala de mais 4 aplicativos que auxiliam e possibilitam a inclusão de pessoas com deficiência. As imagens são do YouTube, e o idioma é o português.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog