CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA SAÚDE!


"O MEDO DE UMA EPIDEMIA"
"Mutação perigosa do vírus da pneumonia, que se alastra justamente na época em que os chineses mais viajam, já chega a outros países - e começa a assustar"


Por: Denise Chrispin Marin
         Caio Mattos 

"Era para ser uma celebração feliz do Ano-Novo lunar, quando as famílias tradicionalmente recebem seus parentes dispersos pela China e por outros países. Mas não foi o que aconteceu nas festas do início do ano do rato em Wuhan, a capital da Província de Hubei, no centro do país, que tem como ponto turístico o deslumbrante cenário da Hidrelétrica das Três Gargantas, a maior do mundo. Supõe-se que, do contato de pessoas com cobras e morcegos vivos vendidos em um mercado local, uma mutação devastadora do coronavírus, causadora da pneumonia, tenha começado a se propagar no fim de dezembro. Como sempre ocorre nessas situações, a multiplicação de vítimas de 2019-nCoV, como foi batizado acelerou-se rapidamente. Até a quinta, 23.631 pessoas em Wuhan e em outras partes da China tinham sido infectadas e dezoito haviam morrido. Outros casos foram identificados em oito países, entre os quais Japão, Coreia do Sul e Tailândia. Na terça-feira 21, o coronavírus atravessou o Oceano Pacífico: uma vítima vinda de Wuhan foi confirmada no Estado de Washington, na costa Oeste dos Estados Unidos. No Brasil, houve cinco alarmes falsos em Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além do Distrito Federal."


"Ágil, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu aos governantes que ativassem o monitoramento e os preparativos para atender os pacientes. A checagem da temperatura de passageiros vindos da China foi adotada nos aeroportos de países vizinhos, como a Malásia e a Índia. Em paralelo, diversas medidas foram tomadas. O mercado atacadista de frutos do mar e animais vivos onde teria se originado a mutação do coronavírus foi desinfectado e fechado. Os moradores de Wuhan, centro econômico, financeiro e cultural, evitam sair e trabalham em casa. Quem conseguiu correu com a família para o aeroporto - justamente uma das formas mais rápidas de o coronavírus se espalhar. Casos foram reportados em Xangai, Shenzhen, Hong Kong e Pequim. Diante do agravamento da propagação desse vírus, o governo finalmente pôs Wuhan e outras quatro cidades em quarentena: nenhum ônibus, trem ou avião pode agora entrar ou sair das cidades, que, juntas, somam mais de 20 milhões de habitantes."


"O Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos confirmou que um homem, não identificado, apresentou os sintomas depois de viajar para Wuhan e está isolado no Centro Médico Regional de Providence. O CDC determinou a  triagem de passageiros vindos de Wuhan nos aeroportos de Atlanta e Chicago, dois dos mais movimentados do mundo; Los Angeles, São Francisco e Nova York monitoram quem vem de lá desde o dia 17. O 2019-nCoV, tal qual como os vírus mais comuns, como o da gripe, é transmitido pelos fluidos humanos - saliva e secreções. Medidas simples, como lavar as mãos com frequência, contribuem para evitar o contágio. Os primeiros sintomas são febre, coriza e dor de garganta."


"O coronavírus foi identificado na década de 60 e só provocava resfriado. Mas em 2002, na mesma China, descobriu-se uma mutação dele que causava a síndrome respiratória aguda grave (Sars, na sigla em inglês). Resultado: mais de 8000 pessoas infectadas e 800 mortes  no mundo até meados de 2003. Nove anos depois, casos de contaminação por outro tipo de coronavírus, responsável pela infecção nos pulmões, foram reportados na Jordânia e na Arábia Saudita. De lá, a doença, chamada de síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers), se disseminou, atingiu 2 200 pessoas e matou 790 até 2018. Entre um e outro episódio, o H1N1 partiu também China em 2009 e espalhou a chamada gripe suína pelo planeta. No Brasil, 2 060 dos 50 482 infectados morreram. Segundo o médico pneumologista Elie Fiss, pesquisador sênior do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, de São Paulo, nas últimas duas décadas o coronavírus vem causando inflamação acentuada nos alvéolos, nos brônquios e no interstício pulmonar. "Ele ataca de forma tão virulenta quanto um boxeador que entra no ringue dando pancadas no adversário", afirma."



"No caso do H1N1, o desenvolvimento de uma vacina conteve o avanço da doença. Já a Sars e Mers continuam latentes - sua propagação vem sendo impedida por campanhas de higiene e monitoramento intenso de viajantes de áreas críticas. O fato de a Sars, o H1N1 e, agora, o 2019-nCoV terem surgido na China não surpreende os médicos sanitaristas. Mesmo em áreas urbanas, a sociedade chinesa mantém a tradição de criar animais para consumo em condições precárias e isentas de vigilância sanitária. A constante ameaça de pandemias levou o governo chinês a ordenar o extermínio de 40% do rebanho suíno - algo como 160 milhões de cabeças - entre 2018 e o fim do ano passado, para debelar surtos da chamada febre suíno a africana. Mas, preocupado com a repercussão, o governo de Xi Jinping só começou a dar atenção ao 2019-nCoV depois que os casos da doença saíram na imprensa de Hong Kong. Segundo Dali Yang, professor da Universidade de Chicago, as autoridades de Wuhan subestimaram o surto para não afetar duas conferências políticas locais em janeiro.
Pequim censurou os meios de comunicação e prendeu oito pessoas que tocaram no assunto em redes sociais. Só na segunda-feira 20 uma equipe do Centro de Prevenção e Controle de Doenças chegou a Wuhan. O cientista Zhong Nanshan, em raro instante de fraqueza, confirmou que o coronavírus é transmitido entre humanos e que apenas um paciente contaminara quatorze funcionários do hospital onde estava internado. O ano do rato começou com mais presságios."



A matéria acima foi retirada da revista VEJA - Edição 2671 - Ano 53 - n° 5, págs. 52, 53, 54 e 55. 29 de janeiro de 2019. Todos os direitos autorais são reservados à revista VEJA e à Editora Abril.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog