CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA SAÚDE!

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A seguinte matéria foi escrita por André Biernath, Diogo Sponchiato e Theo Ruprecht, com design de Letícia Raposo e ilustrações de Ana Matsusaki, publicada pela revista SAÚDE É VITAL, edição de outubro de 2015. Portanto, todos os direitos autorais pertencem exclusivamente aos autores e a revista.

"O QUE A CRISE TEM A VER COM A SUA SAÚDE"
"O cenário de turbulência econômica pode botar até a mente e o corpo em recessão. Investigamos esse impacto e o que está ao seu alcance para minimizar os riscos"


"Alta do dólar, inflação, desemprego... Eis o que mais se vê e ouve no noticiário. E olha que as projeções dos economistas não são nada animadoras. Em matéria de saúde, porém, o que preocupa é o reflexo desses índices - e do tremendo estresse que eles despertam - no aumento de outras estatísticas. Depressão, insônia, ataques cardíacos... Crises que abalam os cofres do país e o bolso do cidadão são capazes de desestabilizar a cabeça e o resto do organismo. É o que já sinalizam tendências apontadas por aqui e dados de outras nações que atravessaram momentos como esse. 'Existem peculiaridades locais, mas, em tempos globalizados, o estresse da instabilidade financeira e o desamparo gerado por ele são universais', raciocina Esdras Vasconcellos, professor de psicologia da Universidade de São Paulo (USP), que se debruçou sobre a repercussão mental da hiperinflação nos governos Sarney (1985-90) e Collor (1990-92).
Embora não haja números estruturados das consequências da crise atual, alertas e lições vêm de estudos conduzidos lá fora. Caso da Espanha, que enfrentou uma tempestade econômica a partir de 2007. Especialistas diagnosticaram um crescimento expressivo nos episódios de transtornos psiquiátricos entre pessoas que procuraram assistência médica depois das trovoadas. Na Grécia, que tenta sobreviver a um colapso nas finanças, a qualidade do sono despencou, segundo uma pesquisa com funcionários de uma rede ferroviária, agora mais sujeitos a perrengues psíquicos e físicos."


"Não é só a mente que sofre, como evidencia a crise que assolou a Argentina entre o final dos 1990 e o início de 2000. O gráfico do histórico de infartos no país acusa claramente uma incidência mais alta quando o PIB (Produto Interno Bruto) cai e a insegurança sobe. Alguns trabalhadores brasileiros já sentiram isso na pele, ou melhor, no coração. Uma análise feita pelo médico João Mansur Filho, diretor da área de cardiologia do Hospital Samaritano do Rio de Janeiro, demonstrou, há alguns anos, que a queda brusca em ações na bolsa de valores se traduz em mais ataques cardíacos fatais.
Essas evidências só reforçam o peso de uma crise no bem-estar da população. E ainda nos aconselham a não poupar cuidados com o próprio corpo. Até porque existe uma tendência perigosa de negligenciar gastos com a saúde quando o dinheiro não rende. Uma pesquisa recém-divulgada pela Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) indica que, para a conta do mês fechar, as pessoas pensam até em dispensar o convênio. 'Tratamentos em geral podem ser relegados a um segundo plano quando a crise aperta, por serem vistos como algo menos importante', nota o psicólogo Ricardo Wainer, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Nesse contexto, inclusive as políticas públicas precisam ser revistas. 'Países menos impactados nesse sentido são os que investem na área e possuem um sistema de saúde robusto, como a Inglaterra', diz a psiquiatra Andrea Horvath Marques, consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS). Curiosamente, procuramos o ministério, que alegou não ter porta-vozes para comentar o assunto. O fato é que cada cidadão também deve zelar por si nessas horas, priorizando, por exemplo, uma boa alimentação, rotina de exercícios e cuidados médicos. Se for o caso, é melhor economizar em outras coisas."


"O ensaísta americano Jonathan Cracy, professor da Universidade Columbia, defende que o sono é a última barreira que o sistema capitalista tenta derrubar. E, ideologias à parte, não dá para discordar dele no que se refere ao número de horas dormidas pela humanidade - com a revolução tecnológica, a quantidade e a qualidade do descanso noturno vêm sofrendo baixas. 'A insônia', escreve Cracy em 24/7 - Capitalismo Tardio e os Fins do Sono (Cosac Naify), 'é o estado no qual produção, consumo e descarte ocorrem sem pausa, apresando a exaustão da vida (...)'."


"Ocorre que, em períodos de crise, a insegurança financia ainda mais a privação de repouso. 'Observamos de forma nítida um aumento da incidência de insônia devido a fatores como desemprego tanto no consultório quanto no ambulatório do SUS', conta a ginecologista Helena Hachul, do Instituto do Sono, em São Paulo. 'As pessoas pensam mais em dinheiro, correm maior risco de perder emprego, têm mais demandas no trabalho e em casa', elenca o que sabota o pregar dos olhos Elliot Lee, professor do Instituto de Pesquisa em Cérebro e Mente da Universidade de Ottawa, no Canadá.
É natural que a nuvem de estresse conspire a favor de uma ou outra noite em claro. O problema é que, para alguns, isso vira rotina. 'Indivíduos com ansiedade possuem um sistema nervoso mais propenso a responder com insônia diante de estímulos estressantes', explica Deborah Suchecki, chefe do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo. A insônia é definida pela dificuldade em iniciar ou manter o sono - ou, ainda, um despertar precoce que não permite a retomada do repouso - e que se repete pelo menos três vezes por semana durante três meses. 'Se, passado o motivo do estresse, o sujeito continuar a dormir mal e cogitar tomar algo, é melhor procurar ajuda', orienta o neurologista Luciano Ribeiro Pinto, da Associação Brasileira do Sono."


"A prova de que essa situação se torna mais comum quando a economia não vai bem vem da Grécia. Em um estudo da Universidade Demócrito da Trácia com mais de 400 funcionários de uma ferrovia, a comparação dos índices de qualidade do sono antes da crise e em meio a ela revelam que os empregados passaram a dormir menos e pior, o que acarreta sonolência diurna e maior suscetibilidade a doenças. 'A restrição crônica de sono já está associada a ganho de peso, diabete e problemas cardiovasculares', alerta Pinto."


"Para prevenir esse pesadelo, são requisitadas mudanças comportamentais e, se preciso, terapia e remédios. Nem sonhe em se automedicar, sob pena de cair em vício e efeito rebote. No dia a dia, convém não ficar grudado no celular às vésperas de ir para cama. 'A luz da tela engana o cérebro e atrapalha a produção de um hormônio que facilita a entrada no sono', avisa Lee. Agora, se a cabeça estiver mesmo em parafuso, há outras razões para adotar um pacote de reajustes."


"Toda situação que perturba a economia doméstica e os bens materiais tende a ser transformada, no cérebro, na tal da ansiedade. 'O sistema nervoso dispara essa sensação para tirar o indivíduo da zona de conforto até ele resolver determinado problema e voltar ao estado de equilíbrio', ensina Ricardo Wainer. A primeira conclusão: não ficar nem um pouco tenso diante de uma instabilidade financeira é, no mínimo, suspeito. 'A apatia sinaliza depressão ou mesmo uma repressão de sentimentos que, ao implodir, pode gerar transtornos como ataques de pânico', arremata o professor Esdras Vasconcellos."


"Acontece que, em uma crise, a insatisfação costuma se prolongar por meses e meses - e às vezes é agravada pelo pensamento de que estamos pagando o preço de decisões que fogem ao nosso controle. A isso se dá o nome de estresse crônico, quadro que catapulta os níveis de cortisol. 'A questão é que, em excesso, essa substância chega a ser tóxica aos neurônios', diz Wainer.
O efeito de uma recessão na massa cinzenta é retratado por um trabalho espanhol (aquele que mencionamos anteriormente). Na Universidade das Ilhas Baleares, profissionais compararam 7 940 sujeitos que visitaram algum serviço de atendimento primário à saúde em 2006 - antes do chacoalhão econômico de 2008 - com outros 5 876 examinados em 2010, quando a nação ibérica ainda se recuperava dos estragos. Ficou claro, então, que a incidência de depressão, ansiedade generalizada e abuso de álcool foi às alturas. 'Desemprego, problemas pessoais, falta de estratégias para lidar com o estresse e o corte nas verbas da saúde provavelmente estão ligados a esse crescimento', justifica a psicóloga Margarita Inês Gilli Planas, que assina o artigo."


"Nos casos graves, uma desordem mental pode terminar em suicídio. Talvez por isso um levantamento da Universidade de Zurique, na Suíça, atribua 4 983 mortes desse tipo à crise mundial de 2008. A investigação, aliás, traz a tona dados valiossímos sobre o elo entre a economia e o bem-estar psíquico. Ancorada em dados de 63 países (incluindo o Brasil), ela revela que o desemprego aumenta de 20 a 30% o risco de suicídio em todo o globo. O mais estranho em um primeiro momento é que esse índice começa a subir seis meses antes do boom de demissões. É, você não leu errado. 'O medo de que o contexto ruim afete o seu serviço ou o de um familiar já acarreta prejuízos', explica Carlos Nordt, sociólogo por trás da análise. 'Além disso, pessoas sem um posto de trabalho prévio são abaladas por ficarem ainda menos esperançosas de encontrar uma oportunidade no futuro próximo', complementa."


"Aí entram as estratégias de controle emocional. 'O suporte social, que envolve o fortalecimento dos laços familiares e das amizades, é importante para resistir a eventos como esse', destaca o psiquiatra Antonio Egidio Nardi, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A psicologia positiva também recomenda se agarrar na gratidão, no otimismo, nos seus verdadeiros propósitos de vida...e nos cuidados com a saúde em geral."


"O estresse crônico não se limita a azucrinar o funcionamento da cabeça. Ele causa muita confusão logo abaixo da linha do pescoço, na região do peito. 'Os picos de cortisol fazem a pressão arterial subir e aumentam as batidas do coração, o que pode acabar em uma arritmia ou mesmo em um infarto', diz o cardiologista Antonio Claudio Nóbrega, da Universidade Federal Fluminense. Uma equipe da Universidade de Oxford, na Inglaterra, acompanhou os casos de ataques cardíacos em Londres entre 2002 e 2009, justamente o período de economia conturbada. Só nesse intervalo ocorreram 2 mil mortes adicionais por doença cardiovascular atribuídas à crise."


"A depressão também cobra o seu preço do sistema circulatório. 'Já sabemos que esse transtorno triplica o risco de um problema nas artérias dar as caras', calcula o médico José Luíz Aziz, diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. A tristeza sem fim lesa o endotélio, o revestimento interno dos vasos sanguíneos. 'Ao longo do tempo, o quadro depressivo provoca uma deterioração dessa camada, o que favorece quadros de hipertensão, trombose e outras complicações'. completa.
A história não para por aí: a instabilidade econômica tem outras repercussões...em outros cantos do organismo. Uma pesquisa da Universidade de Dusseldorf, na Alemanha, descobriu que o receio de perder o emprego eleva em 60% os episódios de crise de asma. Outro artigo científico, este assinado por um tima da Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, apurou quando e como as pessoas fazem buscas sobre doenças no Google. Na última crise americana, que durou de 2008 a 2011, ocorreu um aumento enorme na procura por termos como 'enxaqueca', 'arritmia', 'úlcera'... Todas condições, diga-se relacionadas a níveis exagerados de estresse, nervosismo e angústia."


"A PARTE QUE TE CABE..."

"A crise também respinga na saúde por influenciar algumas escolhas no cotidiano. O corte no orçamento pode significar menor consumo de alimentos nutritivos, sabidamente mais caros. Foi o que aconteceu na Itália, onde o Instituto Neurológico Mediterrâneo Neuromed flagrou, entre 2007 e 2010, uma queda de 13% na ingestão da dieta mediterrânea, protagonizada por peixe, azeite e vegetais e eleita uma das mais equilibradas. Para evitar que o cenário se repita por aqui, o conselho é planejar melhor as contas: dá pra cortar muita coisa antes de abdicar da qualidade das refeições."


"Os experts ressaltam que a maneira como os tempos de vaca magra mexem com o bem-estar varia de pessoa para pessoa - sim, a carga genética faz diferença. 'Ainda é possível notar que, enquanto alguns indivíduos sofrem, outros enxergam na crise oportunidades para crescer', reflete o psiquiatra Mario Francisco Juruena, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. Aliás, essa é uma bela filosofia a seguir quanto a economia não melhora."


A matéria acima foi retirada da revista SAÚDE É VITAL, nº 395, págs. 24, 25, 26, 27, 28, 29 e 30. Outubro de 2015. Todos os direitos autorais pertencem exclusivamente à revista SAÚDE É VITAL e a Editora Abril.


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