POLÍTICA INTERNACIONAL


"MUÇULMANO É NOVO PREFEITO DE LONDRES"
"Sadiq Khan, do Partido Trabalhista, será o terceiro a ocupar o cargo, conquistado após oito anos sob conservador"


Por: Fernanda Odilla
        EM LONDRES

"Filho de paquistaneses promete à população 'as mesmas oportunidades que a cidade lhe deu' e dá fôlego a líder do partido.
O advogado londrino Sadiq Khan, 45, do Partido Trabalhista, será o primeiro prefeito muçulmano de Londres. Os resultados oficiais, anunciados na noite desta sexta (6) - madrugada de sábado no Reino Unido - mostram que ele teve 44,2% dos votos na véspera, ou 1,3 milhão, 315 mil além do conservador Zac Goldsmith, seu maior rival.
'Londres é a melhor cidade do mundo, estou tão orgulhoso. Agradeço a cada um por ter tornado o impossível possível hoje', discursou.
'Quero dar a cada londrino as oportunidades que Londres me deu. Trabalho, segurança, ar puro e uma cidade limpa. Meu pai estaria orgulhoso dessa cidade que escolheu como casa e da qual agora o filho é prefeito'.
Khan será apenas o terceiro prefeito de Londres, depois do trabalhista Ken Livingstone e do conservador Boris Johnson, cada um com dois mandados. Até 2000, a segunda maior capital europeia (atrás de Moscou) não tinha prefeito - cada distrito que forma a cidade de 8,6 milhões de habitantes elegia seu líder.
A religião que Khan divide com 1 milhão de habitantes de Londres, inédita para alguém no posto, chama atenção no momento em que a Europa se indaga como integrar melhor a comunidade muçulmana após ser atingida por sucessivos atentados de facções terroristas islâmicas."


"Mas este não é o único feito do trabalhista. O filho de imigrantes paquistaneses que antes da política defendia causas de direitos humanos tirou do poder os conservadores locais e garantiu assim sobrevida ao atual líder do partido, Jeremy Corbyn.
De certa forma, ele representa também o sucesso de toda uma geração de filhos de imigrantes que escolheram Londres para viver.
Filho de um motorista de ônibus e uma costureira, ele se formou em direito em uma universidade nada tradicional para o padrão britânico."

"PRECONCEITO"

"A briga nas urnas entre Khan e Goldsmith, filho de uma financista, foi além do contraste entre pobreza e riqueza crescente na cidade e escancarou o preconceito contra os muçulmanos.
A religião e a profissão de Khan foram alvo dos adversários, que tentaram atrelar a imagem dele a movimentos extremistas islâmicos.
Prevendo críticas e ataques por sua orientação religiosa, Khan escolheu como lema de campanha 'prefeito para todos os londrinos'. Ressaltou seu apreço pelo islã ao mesmo tempo que salientou ser 'londrino, britânico de origem asiática e torcedor do Liverpool há muito tempo'.
Membro do Parlamento desde 2005, o novo prefeito é classificado como moderno e progressista. É também um político experiente. Durante a gestão do trabalhista Gordon Brown, ainda em 2008, foi indicado ministro para as comunidades locais.
Depois, migrou para o Ministério dos Transportes. E, desde que os trabalhistas fazem oposição no Parlamento, tem papeis importantes no 'gabinete-sombra' que fiscalizam ações do governo.
Além de Goldsmith, parlamentar como ele, Khan derrotou mais dez candidatos. 
Antes mesmo do anúncio do resultado oficial, o Partido Trabalhista já comemorava a vitória em redes sociais.
'Sua visão positiva e sua dignidade derrotaram uma campanha do medo e de divisão', afirmou o ex-líder no Parlamento, Ed Miliband.
Já Corbyn se disse ansioso para trabalhar com o novo prefeito. No fim do post, adaptou o slogan 'Yes, we can' (sim, podemos) do presidente americano, Barack Obama, para #YesWeKhan."

"TRABALHISTA ENCOLHEM NO RESTO DO REINO UNIDO"
"Partido vencedor em Londres teve resultados ruins em eleições na Escócia e em Gales"

"Os resultados das eleições locais na Inglaterra, no País de Gales e na Escócia promoveu uma redistribuição de forças políticas no Reino Unido.
Ao mesmo tempo que aumentou a força do SNP (Partido Nacional Escocês) e abriu espaço para os extremistas de direita Ukip (Partido pela Independência do Reino Unido) em Gales, deixou desapontados muitos membros do Partido Trabalhista, em especial na Escócia.
Apesar da vitória de Sadiq Khan na Prefeitura de Londres, o desempenho ruim dos trabalhistas escancarou a insatisfação com o atual líder Jeremy Corbyn, que assumiu o comando da legenda há oito meses e não obteve resultados tão expressivos quanto se esperava.
Khan, inclusive, fez questão de se afastar de Corbyn durante a campanha, por discordar da forma como o líder do partido lidou com declarações antissemitas de colegas trabalhistas.
O triunfo em Londres não chegou a ser uma surpresa, uma vez que Khan estava liderando as pesquisas de intenção de votos e, nas eleições gerais no ano passado, os trabalhistas já haviam ampliado os números de representantes da capital inglesa no parlamento britânico.
Contudo, assim como o que aconteceu em 2015, a legenda não registrou resultados tão animadores no resto do Reino Unido.
No Parlamento escocês, por exemplo, os trabalhistas perderam 12 das 15 cadeiras que tinham conquistado em 2011, em especial para o SNP (Partido Nacional Escocês), de acordo com números da rede BBC.
O Partido Trabalhista acabou perdendo para os conservadores, assim, a condição de segunda maior bancada.
Defensor da Independência da Escócia, o SNP, por sua vez, celebrou o que chamou de 'vitória histórica', mas ficou a dois votos da maioria absoluta daquele país.
Em Gales, os trabalhistas asseguraram maioria, mas viram os extremistas de direita do Ukip, que tinham nenhum representante, conquistarem sete assentos."

"SOBREVIDA"

"Ainda assim, Jeremy Corbyn ganha uma sobrevida no comando da legenda por ter evitado uma derrota ainda maior que a das eleições do ano passado.
Em 2015, o Partido Trabalhista não apenas encolheu como viu o maior adversário, o Partido Conservador, ficar com 331 das 650 cadeiras do Parlamento britânico.
Nesta sexta-feira (6), o primeiro-ministro conservador, David Cameron, atacou os adversários, dizendo que o Partido Trabalhista 'perdeu completamente o contato com as pessoas duro e que deveriam representar'.
Corbyn, contudo, tentou minimizar as críticas internas e dos adversários.
Ele afirmou que o partido contrariou as previsões de que perderia muitos assentos nas assembleias e conselhos locais. 'Nós insistimos e conquistamos apoio em vários lugares', afirmou, na tarde desta sexta-feira (6)."


Notícia retirada do jornal FOLHA DE S. PAULO - EDIÇÃO DIGITAL - Ano 96 - nº 31.811, pág. A14. Mundo. 07 de maio de 2016, sábado (Acesso: 07/05/2016)

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