VIOLÊNCIA


"GUARDA-CIVIL ERROU DO INÍCIO AO FIM EM AÇÃO QUE MATOU GAROTO DE 11 ANOS"


Por: Emílio Sant'anna
       DE SÃO PAULO

           Marina Estarque
     COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"O tiro que matou Waldik Gabriel Silva Chagas, 11, na noite de sábado (25), resultou de uma ação totalmente errada da GCM (Guarda Civil Metropolitana). Do início ao fim.
De acordo com o secretário Municipal de Segurança Urbana, Benedito Mariano, os três guardas envolvidos no caso não deveriam nem ter começado a perseguição que resultou na morte do menino.
'A função fundamental da GCM é cuidar de patrimônio público e policiamento preventivo. Esse conceito não permite que a guarda faça perseguição a suspeitos', diz. 'Foi uma ocorrência totalmente equivocada'.
Na noite de sábado, guardas-civis realizaram ronda em Cidade Tiradentes, bairro do extremo leste de São Paulo, a cerca de 30 km do centro da cidade, quando motoqueiros se aproximaram e disseram ter sido assaltados por homens em um Chevette prata."


"Os guardas localizaram o carro e começaram a perseguição. Segundo a polícia, os ocupantes do veículo efetuaram disparos contra os guardas, que revidaram.
Um dos tiros atingiu, na nuca, o menino Waldik, que estava no banco de trás do veículo. Os suspeitos abandonaram o carro, com o garoto ferido, e fugiram. Segundo a família, estavam com o menino outros dois adolescentes, um de 13 e outro de 14 anos.
Chefe da GCM, o secretário explica que, desde 2008, diretriz da corporação estabelece de forma clara que os guardas não devem se envolver em perseguições a suspeitos."


"Os agentes deveriam apenas ter avisado a PM e ficado onde estavam. 'Se há a indicação de que um grupo efetuou algum delito, a orientação é comunicar através de rádio a PM ou a Polícia Civil as características dos indivíduos e do veículo. Termina aí a atividade da guarda', diz.
À GCM só é permitido agir em situação de flagrante. Se, nessa condição, os suspeitos escaparem, mais uma vez a orientação é acionar a polícia. 'Nunca fazer perseguição de suspeito', afirma.
Assim como o início da ação, o desfecho foi resultado de mais um erro.
'O protocolo [da GCM] não foi observado. Só em casos muito excepcionais a guarda faz perseguição e, para disparar um tiro, é mais excepcional ainda. A vida de alguém tem que estar em risco, a dele ou de alguém próximo dele', afirmou o prefeito Fernando Haddad (PT).
Segundo o advogado criminalista Gustavo Neves Fortes, outro erro dos agentes foi não fazer a identificação das vítimas que teriam sido assaltadas pelos suspeitos. 
O autor do disparo foi preso por homicídio culposo (sem intenção). Ele pagou R$ 5.000 de fiança e foi liberado. O caso é investigado pela Polícia Civil. Os três agentes, que alegam terem reagido, foram afastados das ruas e farão serviços internos até o final da apuração do caso pela corregedoria da GCM."


"ENTERRO"

"Nesta segunda(27), o corpo de Waldik foi enterrado no cemitério da Vila Formosa, na zona Leste. A cerimônia foi marcada pelo clamor dos familiares por justiça. 'Foi um tiro certeiro, eles atiraram para matar. Não dá para se conformar. O que ele [guarda] fez foi uma barbaridade. Se fosse com o filho dele, ele iria até o inferno para saber quem matou. Quero justiça', disse o tio do menino, Valmir Chagas, 39."


"A morte de Waldik acontece menos de um mês depois de o menino Ítalo, de 10 anos, ter sido morto por policiais militares na zona sul de São Paulo. Ítalo estava com outro garoto, de 11 anos, em um carro furtado, quando foi baleado durante perseguição. O caso ainda está sendo investigado pela Polícia Civil."


Notícia retirada do site FOLHA DE S. PAULO, 27 de junho de 2016 (Acesso: 27/06/2016)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog