MUNDO


"MILÍCIAS TENTAM FREAR AVANÇO DO EI NA LÍBIA"
"Facção terrorista aproveitou caos no país após derrubar o ditador Muammar Gaddafi e se instalou no território"


Por: Patrícia Campos Mello
         André Liohn
       ENVIADOS ESPECIAIS A SIRTE (LÍBIA)

"Integrantes de brigada salafista que combate EI dizem à folha querer instalar lei islâmica para destruir pessoas.
Era na rotatória de Zaafran, em Sirte, que o Estado Islâmico costumavam matar pessoas acusadas de espionar ou de não crer em Deus.
Os condenados vestiam macacão laranja e eram decapitados com uma espada ou mortos com um tiro na cabeça. Depois, crucificado em um andaime, o cadáver ficava exposto durante dias.
Agora, a região de Zaafran está sob poder das milícias líbias da cidade de Misrata, apoiadas pelo governo de acordo nacional. Os extremistas do EI estão sitiados em Sirte, no centro de convenções Ouagadugu, construído pelo ditador Muammar Gaddafi (1942-2911) na cidade natal para receber líderes mundiais.
Em 5 de maio, quando começou a ofensiva, eram 2.000 extremistas na cidade. Na sexta (22), não passavam de 400.
Entre as forças que lutam contra o EI estão 300 homens das brigadas de salafistas, que seriam considerados terroristas e barrados nos aeroportos de muitos países ocidentais. Tal como os extremistas do EI, os salafistas seguem uma versão fundamentalista do islã, querem voltar aos primórdios da região e emular o que dizia o profeta Maomé.
'Lutamos contra o Daesh (acrônimo em árabe do EI) porque eles não seguem o verdadeiro islã', diz o salafista Ayman Gliwan, 31 anos. 'Nós também queremos implementar a sharia (lei islâmica), mas ensinamos as pessoas, instruindo.O Daesh quer fazer isso usando a violência'.
Dois integrantes das brigadas salafistas deram entrevista à Folha. Foi a primeira vez que falaram à mídia desde o início da ofensiva em Sirte.
Os salafistas não conversam com mulheres desconhecidas, não dão entrevistas nem admitem ser fotografados. Para conversar com a reportagem, estabeleceram condições. A repórter tinha que estar completamente coberta com véu e roupas soltas, e permanecer no carro.
'Não somos terroristas, nunca forçamos ninguém a ir à mesquitas nem cometemos atos violentos. Somos apenas islamistas', disse Gliwan."

"DIVERGÊNCIAS"

"A Líbia não padece da divisão sectária entre xiitas e sunitas que exacerba os conflitos na Síria e no Iraque. A enorme maioria da população é sunita, ramo majoritário no islã. Mas há divergências profundas entre leste e oeste, islamitas e seculares.
Após Gaddafi cair, em 2011, o país viveu um breve período de paz e mergulhou no caos. Um governo se fixou em Tobruk (leste), aliado a Benghazi, e outro em Trípoli, com apoio de Misrata (oeste)."


"Em março, assumiu o governo de acordo nacional, apoiado pela ONU, mas sem poder afetivo. Na prática, milícias locais dominam o país.
EUA e Reino Unido apoiam Misrata contra o EI em Sirte. Mas, em Benghazi, Misrata luta com extremistas do Ansar al Sharia contra o general Khalifa Haftar. Potências ocidentais apoiam Haftar, enquanto em grande parte dos líbios o acusa de tentar estabelecer outra ditadura militar.
O Estado Islâmico se aproveitou da confusão e se estabeleceu em agosto de 2015 em Sirte e arredores, controlando cerca de 200 km na costa do país. Calcula-se que haja 3.000 extremistas em toda a Líbia."


Notícia retirada do jornal FOLHA DE S. PAULO - EDIÇÃO DIGITAL - Ano 95 - Edição 31.889, pág. A14. Mundo. Domingo, 24 de julho de 2016. (Acesso: 24/07/2016)

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