CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA ALIMENTAÇÃO!


"MUDE SEUS HÁBITOS E AFASTE O DIABETES"
"A doença foi classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um surto global. Pudera: no mundo, há mais de 400 milhões de pessoas diagnosticadas com o problema. Entenda como ele surge, age e prejudica sua saúde quando está fora de controle"


Por: Leonardo Andolini

"À espreita, o inimigo apenas observa. A cada erro cometido, as tropas avançam e ganham espaço no organismo. Silencioso, dá poucos sinais de sua existência, até ser descoberto e mostrar que veio para mudar a vida daquela pessoa. Seu nome? Diabetes. É não é de hoje que essa doença nos incomoda: há relatos de casos desde o século II, deixados pelo grego Arateus. De lá pra cá, o diabetes só conquistou terreno, tanto foi classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês) como uma epidemia global. Isso porque, segundo dados da OMS, em 1980 havia 108 milhões de pessoas com essa condição no mundo e, até 2014, esse número tinha subido para 422 milhões - quatro vezes mais. No Brasil, ainda de acordo com a entidade, 16 milhões de habitantes têm diabetes - o que reflete um crescimento de 61,8% entre 2006 e 2016, conforme dados da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). E mais: o problema mata 72 mil pessoas por ano no País. É, estamos perdendo a guerra (e faz tempo!). Mas por quê? O que nos faz ficar atrás? De acordo com Danilo Hofling, endocrinologista membro da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO), de São Paulo (SP), esse número cresceu, em especial, pelo aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade na população (relação que será explicada à frente). Dados do Ministério da Saúde mostram que a obesidade atinge um em cada cinco brasileiros e subiu de 11,8% em 2006, para 18,6%, em 2016. E não é só: 'outros fatores, como o envelhecimento gradual da população e o aumento do sedentarismo, também contribuem para o surgimento do problema', informa."

"CAMINHO DA DOENÇA"

"O diabetes é uma condição crônica e sem cura, mas pode ser controlado com tratamento. Ele causa uma desordem no metabolismo da glicose (o açúcar obtido por meio dos alimentos) e se caracteriza pelo excesso desse carboidrato no sangue - o que não é nada bom. A glicose tem um papel fundamental no corpo. Ela abastece as células com energia, para que possamos desempenhar as atividades do dia a dia. No entanto, para isso acontecer, é necessária a ajuda da insulina, hormônio fabricado no pâncreas. Para se ter ideia, o nível de açúcar no sangue, chamado de glicemia, se mantém equilibrado graças à atuação da insulina. No caso da doença, há uma falha na atuação desse hormônio. No diabetes tipo 1, por uma desordem do sistema imunológico, o corpo deixa de produzir a insulina. Já no tipo 2, o mais comum e relacionado a um estilo de vida pouco saudável, as células simplesmente não aceitam mais a insulina - não importa a quantidade produzida (veja box com outras informações sobre os tipos de diabetes). Sem a ajuda do hormônio produzido pelo pâncreas, a glicose corre livre, leve e solta pelo sangue. O problema é que isso não adoça em nada a vida. 'A glicose, quando em níveis elevados no sangue, é tóxica para o organismo', explica Hofling. E põe tóxica nisso! A doença pode causar pé diabético, complicação que causa feridas na pele e falta de sensibilidade no pé, podendo levar à amputação; lesões nos rins, com insuficiência renal; problema nos olhos, incluindo a catarata e, em casos mais graves, a cegueira; problemas no coração, como infarto, e até mesmo acidente vascular cerebral - o famoso AVC."



"ALERTA VERMELHO"

"Antes de a pessoa desenvolver o diabetes, ela entra em um quadro chamado pré-diabetes. É como se fosse um alerta sobre o possível desenvolvimento da doença. Aqui, a glicose já não está sendo bem aproveitada, acumulando-se no sangue. Nessa etapa, o pâncreas sente que há algo errado e começa a produzir mais insulina, na tentativa de controlar o açúcar. O problema é que o organismo pode ficar nessa fase de três a cinco anos sem apresentar qualquer sintoma. Só dá para saber por meio de exames de sangue. Sem cuidados, a situação evolui para o diabetes tipo 2. E como o indivíduo entra nessa fase que antecede a doença? Bem, o ganho de peso, como já foi dito, tem um papel importante nisso. 'O sobrepeso e a obesidade favorecem o aumento da glicose no sangue', esclarece Hofling. Funciona assim: com os quilos a mais, o pâncreas passa a produzir mais insulina, a fim de controlar os níveis de açúcar, mas o organismo não interpreta a ação de forma benéfica. Acha que tem algo errado. Aí surge o estado de resistência insulínica, ou seja, apesar da grande quantidade de insulina circulando pelo sangue, o organismo passa a não aproveitar a substância. Vale ressaltar que este estado ainda não se caracteriza como diabetes quando os valores de glicemia em jejum variam entre 100 e 125 mg/dl (a partir de 126 mg/dl a história muda). O pré-diabetes pode ser revertido com uma alimentação rica em nutrientes, pobre em açúcares e com a prática regular de atividades físicas. Assim, a glicemia volta ao normal - e sua vida também."


"DE OLHO NO CARDÁPIO"

"Como o excesso de peso é um dos fatores para o desenvolvimento do diabetes tipo 2, a alimentação tem tudo a ver com a prevenção. Ela pode fazer o papel de vilã, mas também o de mocinha - de acordo com o estilo de vida que você tem. Perceba que uma alimentação com excesso de açúcares em geral, carboidratos simples (arroz branco, macarrão, pão etc.) ou alimentos gordurosos fará com que a pessoa ganhe quilos extras. 'Esse excesso de peso pode gerar resistência à insulina e, com isso, o indivíduo desenvolve diabetes tipo 2', conta Adriana Ávila, nutricionista membro da Câmara Técnica do Conselho Regional de nutricionistas (CRN-3), de São Paulo (SP). Nesse sentido, a prevenção da doença consiste em investir em uma dieta equilibrada e na prática de exercícios físicos. Para quem já tem o problema, a atenção na alimentação deve ser redobrada, e alguns itens ajudam a mantê-lo sob controle, como veremos a seguir."


"ALIMENTOS DO BEM"

"O abacate e o azeite de oliva, ricos em gorduras monoinsaturadas, são uma dupla e tanto. De acordo com um estudo do The American Journal of Clinical Nutrition, o nutriente é benéfico no controle da glicemia e é indicado para a dieta de quem tem diabetes dos tipos 1 e 2. Além disso, esses alimentos são ótimos aliados na redução do colesterol ruim (LDL), já que o problema favorece o entupimento das artérias, levando ao infarto. A aveia é outra forte amiga de quem convive com essa condição. 'Ela contém betaglucana, uma fibra solúvel que ajuda no controle da glicose', afirma Adriana. Ou seja, a substância ajuda a diminuir a velocidade de absorção da glicose, evitando os famosos picos glicêmicos. O salmão também entra nessa lista. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Valência, na Espanha, observou que o ômega 3 - substância em abundância no peixe - está associado à diminuição da concentração de glicose no sangue. Já as amêndoas são um tipo de segunda defesa. São ricas em gorduras monoinsaturadas e possuem boas quantidades de magnésio, importante no fortalecimento dos ossos, por exemplo. No caso de uma crise de glicose elevada, o mineral é excretado pela urina e faz uma baita falta para o corpo. Quando fazem parte da dieta, além de ajudarem no controle da glicemia, repõem o nutriente. Para evitar imprevistos, quem tem diabetes deve investir em qualquer item rico em fibras - como verduras, legumes e leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico etc.). 'Eles ajudam na digestão e na absorção do carboidrato presente na dieta', informa Adriana. Isso significa que há uma diminuição da velocidade com que a glicose é absorvida. E já que o assunto são fibras, entram nessa lista as farinhas funcionais, como as de amora, berinjela, banana-verde e coco, as sementes de chia e de linhaça. Ah, não podemos nos esquecer do yacón, um tipo de batata que ajuda no controle da glicemia, segundo uma pesquisa realizada pela Universidade de Franca (SP). O alimento é rico em um carboidrato chamado frutooligossacarídeo, que age de forma semelhante às fibras no organismo."


"NOVA ESPERANÇA"

"Um estudo realizado pela Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, trouxe novas esperanças para quem tem diabetes. De acordo com o experimento, uma dieta com pequenos ciclos de jejum poderia fazer o pâncreas se regenerar e recuperar suas funções. É como se o órgão esquecesse de sua pane. Segundo os cientistas, a dieta consegue 'reiniciar' o corpo. No experimento, feito com cobaias, os ratos foram submetidos a um regime que simula o jejum. Durante cinco dias, eles receberam poucas calorias (entre 800 e 1.100) e proteínas, além de alimentos pobres em carboidratos e ricos em gordura insaturada, como o azeite de oliva. Em seguida, as cobaias passaram 25 dias comendo de tudo, sem restrições. Ao deixá-las famintas e depois alimentá-las novamente, segundo os cientistas, as células do pâncreas foram levadas a uma reprogramação, que recuperou parte do órgão que não estava mais funcionando. O teste valeu tanto para o tipo 1 quanto para o tipo 2. Mas vamos com calma! Os autores advertem que, apesar dos bons resultados, ainda são necessários outros estudos para que a dieta possa ser indicada para quem tem diabetes."



"ATENÇÃO AO CORAÇÃO"

"O órgão é uma das principais vítimas do diabetes, e muitas pessoas que convivem com a doença nem fazem ideia disso. Uma pesquisa do Ibope apontou que um pouco mais da metade dos pacientes (56%) citou as doenças cardíacas como consequências mais relevantes do diabetes. E qual a relação entre essa doença causa um descontrole dos níveis de açúcar no sangue, o que, juntamente com a incapacidade de produzir e usar a insulina, cria um estado de inflamação. Esse hormônio ainda é responsável por dilatar as artérias. Sua ausência leva à deficiência dessa relaxamento, aumentando a pressão dos vasos. Tudo isso favorece o surgimento de placas de gordura e o aumento do colesterol ruim e de outras substâncias nas paredes das artérias, restringindo o fluxo sanguíneo. O resultado? 'Uma das principais complicações no que diz respeito ao coração é o infarto do miocárdio', esclarece Alexandre Galvão, cardiologista do Hospital Samaritano Higienópolis, em São Paulo (SP). Tem, ainda, a questão da hipertensão. 'É muito comum encontrar pacientes diabéticos hipertensos', informa Galvão. Uma das causas pode ser a pesada produção de insulina para tentar controlar a glicose. Esse trabalho mexe com o sistema simpático, afetando os batimentos cardíacos e estimulando a concentração exagerada dos vasos."



"CORPO EM MOVIMENTO"

"Investir em atividades físicas é uma excelente medida para o controle do diabetes. Isso porque os exercícios melhoram o aproveitamento da glicose pelos músculos, reduzindo, muitas vezes, as doses de medicamentos. Casos menos graves podem até dispensar o uso de medicação. Além disso, o exercício físico ajuda a prevenir problemas no coração, como observou uma pesquisa da American Heart Association. Para entender melhor essa relação, primeiro temos de saber sobre a glut-4. Trata-se de uma 'insulina-independente' encontrada na maioria dos tecidos do corpo. Com o exercício, ela é produzida em grandes quantidades e auxilia diretamente no controle da glicose. 'Não é a mesma coisa, mas é como se o músculo fizesse o papel da insulina', comenta Waldecir Paula Lima, professor-doutor presidente da Comissão de Saúde do Conselho Regional de Educação Física de São Paulo. Mas vale praticar qualquer tipo de atividade? Segundo Lima, cada paciente deve ser avaliado individualmente. Uma pessoa com um diabetes mais acentuado não poderia, por exemplo, fazer uma corrida de longa duração. 'Certamente ela teria problemas', comenta. Em geral, o maior cuidado é em relação ao volume, à intensidade, duração e frequência do exercício. Tendo isso analisado, aí pode ser corrida, natação, ciclismo ou musculação. Os aeróbicos, no entanto, reduzem a chamada gordura visceral, aquela que é encontrada ao redor de órgãos como coração e rins - que sofrem com o diabetes e merecem atenção redobrada. O recomendado é praticar atividade física de 30 a 60 minutos, quatro ou cinco vezes por semana, em intensidade leve e moderada."



A matéria acima foi retirada da revista PENSE LEVE - X Ano 26 - nº 305, págs. 20, 21, 22, 23, 24, 25 e 26. Novembro de 2017. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista PENSE LEVE e à Editora Abril.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog