LITERATURA


"ESQUIZOFRENIA: LIVRO ABORDA O COTIDIANO DE QUEM VIVE COM A DOENÇA"
"Escrita por uma filosofa brasileira, obra será adaptada em curta-metragem da Netflix"


Por: Daniela Simões

"A obra Manu e o Povo que Mora na Mente (Editora Autografia) é uma combinação de ficção e não-ficção. Inspirado na vida de duas pessoas esquizofrênicas acompanhadas pela autora e filosofa Maria das Graças Pires, o livro conta a história de Manu, um jovem que convive com a doença.
'Ele teve várias crises, mas conseguiu mudar. Com a ajuda da família e da equipe médica, Manu passou a compreender suas crises', relata a autora. 'Quando nós conversávamos, frequentemente ele dizia para mim 'o povo da mente está chegando'. Mas a partir do momento que ele foi dominando suas criaturas, conseguiu ter uma vida normal'.
Durante 20 anos, a autora trabalhou com gestão de pessoas e desenvolvimento humano, entrando em contato com indivíduos de diversos tipos e características. 'Comecei a prestar atenção no que essas pessoas falavam e sentiam, na maneira como elas se expressavam. Esse jeito diferente me chamou a atenção', conta Pires em entrevista à GALILEU."


"A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico que faz com que o indivíduo perca a noção do que é realidade e o que é imaginação. Existem diversas variações da doença e a pessoa que se encontra com essa condição precisa fazer um tratamento ao longo da vida inteira, já que ela não tem cura. Os sintomas da esquizofrenia costumam abranger delírios, alucinações, pensamentos confusos, distúrbios de comportamento, paranoia, ouvir vozes, fala incoerente, entre outros.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 26 milhões de pessoas são afetadas pela doença no mundo inteiro. Estima-se que 800 mil convivam com a esquizofrenia no Brasil.
A outra jovem que inspirou a autoria a escrever o livro tinha surtos cada vez que ficava frustrada. 'Ela dizia que tinha uma pessoa, geralmente uma mulher, a vigiando e que queria lhe fazer mal. Eles ficavam nesse meio turno entre o que é real e o que é imaginário', relata. De acordo com a autora, a realidade é aquilo que é acordado em uma cultura. Quando alguém sai desses padrões, causa-se um certo estranhamento.
A filosofa conta ainda que, durante o tempo em que trabalhou com esquizofrênicos, uma das maiores dificuldades que ela observou foi a falta de entendimento e acolhimento por parte de quem os rodeia. 'Falamos muito de inclusão, mas não a praticamos. Quando pensamos que 'aquele que é diferente' já estava o excluindo'. Para Pires, incluir alguém denota muito esforço e uma quebra de paradigmas dentro de si próprio. 'É um exercício diário de olhar para a alma do outro. É olhar o ser humano e em vez de procurar defeitos, busca as qualidades e os talentos. Eles são muito inteligentes, mas muitas vezes não têm oportunidade de demonstrar isso'.
A família, na visão de Pires, ainda é um empecilho no desenvolvimento de muitas dessas pessoas. 'Eles ainda sentem vergonha, encaram a situação com muito sofrimento, quase como se fosse uma tragédia. Existem muitos preconceitos'.
Manu e o Povo que Mora na Mente, contudo, veio para conscientizar e promover uma reflexão sobre tais questões. 'É um livro que você pode ler em meia hora e fazer uma imersão, coisa que eu acho que é o principal papel da literatura', explica.
Este é o primeiro volume de uma trilogia e deve virar um curta na Netflix em breve. Os outros dois tratam de bipolaridade e da síndrome do toque e têm previsão de lançamento em janeiro e abril, respectivamente."

Matéria retirada do site GALILEU, 16 de novembro de 2018 (Acesso: 16/11/2018)

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