CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA EDUCAÇÃO!


"O DRAMA DOS PROFESSORES BRASILEIROS"
"Rede pública paga salários baixos, carece de condições de materiais para uma boa educação e convive com um número excessivo de trabalhadores temporários"


Por: Guilherme Sette
        Vicente Villardaga

"Se existe uma profissão desprestigiada hoje no Brasil é a de professor. Não se trata exatamente de um problema atual, mas de uma situação que se arrasta e não se resolve. Passam-se os anos e nada é feito para valorizar os profissionais do ensino. Além de sofrerem frequentes humilhações e violências em sala de aula, serem acusados, em tempos recentes, de doutrinação ideológica, ainda têm que conviver com uma baixa remuneração, que não corresponde à importância de seu trabalho. A hora aula de um professor de rede pública estadual de São Paulo, que está próxima da média nacional, atualmente gira em torno de 12 reais. Se der 40 aulas por semana, 8 horas por dia, um professor iniciante concursado vai ter rendimentos de cerca de R$ 2,4 mil. O salário médio dos professores não é muito diferente do obtido, por exemplo, por uma empregada diarista, que, em São Paulo, cobra, em média R$ 100 por dia. E está abaixo do piso salarial de um garçom, cuja remuneração base é de R$ 2,8 mil. Por questão de formação e conhecimento e pelo que significam para o futuro das crianças e adolescentes, os professores deveriam ganhar muito mais. Ouvido pela ISTOÉ, um professor veterano que não quis se identificar, chorou ao falar de sua condição financeira."


"SISTEMA INJUSTO"

"O sistema é injusto, faz a gente pegar duas aulas de manhã e na terceira já tem que sair para outra escola", afirma o professor Rafael Canudense, 33 anos, que dá aulas de história na Escola Estadual Renata Graziano de Oliveira Prado, no Jardim Guarujá, em São Paulo. "Às vezes, no meio da tarde, o professor já rodou quatro escolas. Tem dias que dou cinco aulas, tem dias que dou nove. Tem mês que vem R$ 900 de salário, outros vêm R$ 1,5 e, no máximo, R$ 2,4 mil". Canudense é o chamado professor eventual, que realiza as mesmas funções dos concursados, mas não goza dos benefícios e nem possuem um vínculo empregatício duradouro. Esse grupo de substitutos representa cerca de 14% do total de professores da rede pública do estado, um contingente de mais de 180 mil profissionais. Para os eventuais não há nenhum direito. 
Ser professor do ensino público, principalmente nas periferias, não é fácil. Um dos problemas é a precariedade dos colégios. Outra é a logística para professores que circulam entre diversas escolas. Falta verba de manutenção e recursos educacionais. Que o diga Andressa dos Santos, 36 anos, que dá aulas de sociologia na Escola Estadual Alberto Conti, em Santo Amaro. "Recursos na escola? Que recursos? Não tem nada além de giz e lousa", afirma Andressa. "Depois das últimas chuvas, caiu um pedaço do muro e o conserto só feito porque os professores e a associação de Pais e Mestres fizeram uma vaquinha para pagar". Ela conta que algumas escolas mais da metade dos professores são temporários. Por falta de mão de obra, há muitos profissionais readaptados, com restrições físicas ou mentais, prestando serviços."


"A professora Valmira Coelho, 69 anos, readaptada para a função de secretária na Escola Estadual Maria Luiza de Andrade Martins Roque, no Jardim Eliana, é um desses casos. "Tenho duas filhas desempregadas e consigo sobreviver porque tenho pensão do meu marido", diz. "Sofro também com a sobrecarga de funções porque sou readaptada e, em tese, não possuo mais condições físicas ou mentais para dar aula". A sobrecarga é um problema frequente de muitos professores, como José Augusto, 52, que dá aulas de sociologia e história nas escolas estaduais Renato Braga, no Jardim Casablanca, e Arnaldo Laurindo, no Parque Santo Antônio. "Para ter o sustento da família hoje é preciso ter dois cargos, de manhã até a noite. Pois o salário de um cargo não é suficiente, são poucos que conseguem", diz.
O auto número de profissionais que não trabalham apenas em uma escola é apontado por Cláudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovações em Políticas Educacionais da FGV, como um dos principais problemas da educação brasileira. "O professor não pega uma aula em cada escola que ele deseja, o sistema é desenhado para isso", diz. Segundo ela, há professores concursados com cargas horárias abaixo de 10 horas semanais. Ela avalia que profissionais da educação precisam de um contrato como qualquer outro profissional, com 40 horas semanais."

"SAÚDE MENTAL"

"As dificuldades dentro da sala de aula muitas vezes afetam a saúde mental dos professores. No caso da professora de matemática Andrea Patrícia Schianti, 50 anos, da Escola Estadual Dogival Barros Gomes, os problemas se acumularam de uma forma que levaram à síndrome do pânico e à depressão. Convivendo com fibromialgia há 11 anos, precisou pedir afastamento por três anos por não ter condições de dar aula, algo que implica em salários mais baixos. "Hoje tomo remédio para depressão. É de tanto passar nervoso na profissão", diz. Após um período afastada, Andrea conseguiu a readaptação para trabalhar na secretaria por dois anos e optou por Voltar para as salas de aula neste ano. Se a vida não está fácil para ninguém, é certo que para os professores ela está pior."


"NÃO APRENDEMOS COM NOSSOS ERROS"
"O economista chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper, Ricardo Paes de Barros, faz um diagnóstico dos problemas da educação no Brasil e diz que falta governança para que as escolas funcionem melhor"


"Por que a educação pública brasileira não funciona direito?"
"Há diversas razões educacionais e pedagógicas para isso. Mas a sensação que a gente tem é de que tudo decorre de uma questão de governança. O Brasil está se esforçando. Já chegamos a 6% do PIB com gastos em educação, mas nosso desempenho é fraco."

"A pobreza afeta nosso desempenho?"
"Não. Há cidades do Ceará e do Piauí, por exemplo, que têm índices ótimos de qualidade educacional. E ae tem lugares que vão muito bem é porque a gente sabe fazer. Uma das razões pelas quais não evoluímos é que não conseguimos aprender com nossos erros e acertos".

"Que tipo de erros se comete?"
"A nossa educação média, por exemplo, é um absurdo. Hoje, a diferença entre a nota média de matemática do aluno do final do ensino fundamental e do aluno do ensino médio é de 10 pontos da escala do Saeb. Dez pontos é pouco. Isso significa que no final do ensino médio o aluno sabe a mesma coisa que sabia no final do fundamental. Algo de errado está acontecendo"

Vicente Villardaga

A matéria acima foi retirada da revista ISTOÉ - nº 2573, págs. 48, 49 e 50. 24 de abril de 2019. Todos os direitos autorais são reservadas exclusivamente à revista ISTOÉ e à Editora Três.


SUGESTÃO

Abaixo, vídeo que mostra uma pesquisa sobre o perfil dos professores das escolas brasileiras, o que inclui salários e condições de trabalho. As imagens são do YouTube e o idioma é o português.


Neste outro vídeo, de uma reportagem, mostra que mais da metade dos professores já sofreram algum tipo de violência no trabalho. As imagens são do YouTube e o idioma é o português.


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