CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA EDUCAÇÃO!


"O RITMO DE UM FERA DO ENEM"
"O perfil do paulistano a obter nota recorde em matemática mostra que a vida de um bom aluno pode ser bem divertida"


Por: Ana Carolina Soares

"Nada como um solo de bateria para liberar tensões antes de uma prova difícil. O vestibulando Mathias Dunker, de 19 anos, ensaiou com sua banda de blues, O Resto, no sábado (9), em um estúdio improvisado na garagem de casa, no Planalto Paulista. Era a véspera do início da segunda fase da Fuvest, a última etapa da peneira para a matrícula na faculdade de física da Universidade de São Paulo (USP). Para relaxarem, os quatro amigos, todos ex-alunos do Colégio Bandeirantes, tocaram várias vezes uma composição deles, Majestade, com os versos: 'Se por acaso sentar no meu trono, não abane/ Que estou no auge da minha fama/ E sirva-me gelado em Ballantine's'.
Mathias não é craque só com as baquetas. Fera nos estudos, ele se tornou um dos reis do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), prestado por mais de 5,7 milhões de pessoas. Soube naquele sábado, pelo site do órgão vinculado ao Ministério da Educação, que fazia parte do grupo de treze alunos no Brasil que tiraram nota máxima na prova de matemática, façanha inédita nos dezessete anos da prova. Mathias é, até agora, o único paulistano na lista dos feras que obtiveram 1008,3 pontos (a média nacional da disciplina ficou em 467,9 pontos, abaixo dos 473,5 do ano anterior). 'Sabia que tinha ido bem, mas não tanto', diz o garoto.
Ele celebrou a notícia no mesmo dia. Levou para a sala de casa seus instrumentos (além da bateria, toca saxofone, gaita, guitarra, flauta e piano), juntou a turma da banda, os pais e a namorada para um sarau. Foi breve e sem Ballantine's - afinal, tinha Fuvest no dia seguinte. 'Apesar de ele ser bom aluno, fiquei surpreso', orgulha-se o pai, o psicanalista Christian Dunker, professor de psicologia da USP.
Mas qual é a fórmula para se dar bem na mais temida das disciplinas? O caso de Mathias é peculiar. Primeiro, o jovem pertence a uma família onde se valoriza muito o conhecimento. Sua mãe, Ana Cristina, formou-se em psicologia na USP. A avó materna, Anna Bortoletto, foi uma das primeiras mulheres a entrar em física na universidade e levou o segundo lugar na Fuvest. Ainda assim, relata o pai, nunca houve pressão para que ele fosse o melhor da classe. 'Isso é uma atitude pedagógica nefasta da elite do país e não garante a formação de pessoas felizes ou realizadas', entende Dunker."


"Mathias sempre buscou o aprendizado por prazer, e isso provoca estranheza na escola. 'Sofri bullying por ser o sabichão da turma'. Certo dia, na 8ª série, levantou o braço na classe de matemática para falar sobre o conceito de infinito variável e foi hostilizado. 'O pessoal tirou um barato, e a professora me chamou de mentiroso', lembra. Cenas como esse se repetiram até que seus pais o trocaram de colégio. No novo ambiente, o jovem continuou mais dedicado às leituras de interesse próprio do que ao conteúdo didático. 'Fechava o ano no terceiro bimestre, no quarto, relaxava, ficava com notas vermelhas'.
O perfil mais disciplinado ressurgiu no ano passado. Ao concluir o ensino médio, em 2014, Mathias tentou vaga em medicina. mas não passou. Abandonou o cursinho após três meses e começou a dar aulas de reforço de disciplinas diversas na escola da avó, Feras da Anna. 'Ali, descobri minha vocação de professor, o gosto pela física, e vi que a forma mais fácil de aprender é ensinar'. Tornou-se sócio do empreendimento e passou a faturar em média 10 000 reais por mês, trabalhando entre oito a dez horas por dia, até em fins de semana. Além disso, lecionava como voluntário no colégio Carandá Vivavida, dirigido pela mãe, num projeto social destinado a jovens e adultos. Sem cobrar nada, também ajudou alunos num colégio estadual a se preparar para o vestibular. Vida cansativa? Para Mathias, todo momento é oportuno para falar dos assuntos que mais ama. 'Sabe aquele cara que pega num balde de pipoca no cinema e começa a explicar como o milho estoura? Assim é meu namorado', resume, de forma bem-humorada, a estudante Marina Rogano."


A matéria acima foi retirada da revista VEJA SP - parte integrante de VEJA -  edição 2 461 - Ano 49 - nº 3, pág. 16. 20 de janeiro de 2016. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista VEJA e a Editora Abril.


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