DOSSIÊ CÂNCER:
A PREVENÇÃO, A LUTA, A VITÓRIA

Houve um dia em que ter diabetes era uma sentença de morte - ou pelo menos de alguns membros amputados. A pressão alta, a garantia de um ataque cardíaco iminente. Ser portador de HIV, uma verdadeira arma apontada para a cabeça. Hoje, são doenças ainda graves, mas crônicas e controláveis - qualquer um pode conviver com elas e ter qualidade de vida, desde que tomados alguns cuidados.
A epidemia assustadora dos nossos tempos de vida longa e farta (inclusive de maus hábitos como fumar, beber, comer demais e não se exercitar) é o câncer e suas mais de 100 variações já identificadas. Um assunto que interessa a todos nas próximas postagens, que compreenderão um DOSSIÊ CÂNCER: A PREVENÇÃO, A LUTA, A VITÓRIAVocê lerá e verá que ter câncer não é uma loteria, mas sim uma probabilidade estatística. Esse diagnóstico vai aparecer para metade de nós nos próximos anos.
A cura definitiva da doença em qualquer estágio já foi cravada algumas vezes, e tema de notícias ou assuntos publicados neste blog. Hoje, cientistas de todo o mundo parecem convergir para uma solução menos milagrosa que um elixir mágico, e, por isso, mais plausível: manter o câncer sob controle. As últimas descobertas aplacam a fúria da multiplicação das células cancerosas e garantem uns bons anos a mais de vida, e o principal: com qualidade. Para que o câncer, muito em breve, seja a nova diabetes, metaforicamente, só nos impeça de comer alguns doces, mas não de viver.

TRATAMENTOS:
BATALHA SEM FIM - UM INIMIGO MUTANTE REQUER UMA LUTA EM VÁRIAS FRENTES. OS TRATAMENTOS MODERNOS CONTRA O CÂNCER TÊM POR OBJETIVO DOMAR COM A QUAL PRECISAREMOS CONVIVER


TRATAMENTOS: PESQUISAS CLÍNICAS

PESQUISAS CLÍNICAS: SAÍDA QUE EMPACA NA BUROCRACIA


Por: Natália Bitello

Sabia que é possível um paciente brasileiro ter acesso ao mesmo tratamento de ponta de um europeu sem gastar nada? Não é preciso ir para a Europa, basta se inscrever em pesquisas clínicas. Falando assim, parece fácil - e deveria ser, mas não é.
Estudos internacionais que testam novos tratamentos costumam recrutar pacientes pelo mundo todo para garantir diversidade biológica, étnica, social e cultural. O Brasil seria, portanto, um dos melhores países para receber esses testes - não fosse a lentidão do sistema regulatório. Ocupamos hoje a 15° posição no ranking mundial de pesquisa clínica.
Enquanto países como Estados Unidos, Coreia do Sul, Austrália, Canadá e países da Europa, líderes mundiais em pesquisa, aprovam juntos mais de 150 mil estudos por ano, cada um em um prazo que varia entre 30 e 120 dias, a tramitação nos órgãos brasileiros dura em média, de 12 a 15 meses. Quando finalmente é aprovado aqui, o estudo, muitas vezes, já encerrou a fase de recrutamento.
As pesquisas clínicas são de responsabilidade de pacientes, comunidade médica e científica, governo, empresas e entidades de pesquisa. Além de muitos pacientes não serem informados da possibilidade pelo seus médicos, a coisa aqui emperra na esfera pública. O sistema regulatório brasileiro é o único a requerer duas aprovações eticas por estudo - a primeira no Comitê de Ética em Pesquisa, e a segunda na Comissão Nacional de Ética, além da aprovação técnica da agência regulatória responsável, a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa).


Resultado: Segundo a Associação Brasileira das Organizações Representantes de Pesquisa Clínica, a burocracia impediu que o Brasil participasse de 144 pesquisas em 2014, 30 delas para tratamento de doenças com risco de morte. Com isso, os pacientes que seriam indicados por seus médicos a participarem do recrutamento, perderam a oportunidade. No caso do câncer, cujos tratamentos costumam ser caríssimos, a pesquisa clínica se apresenta como uma chance de ouro para quem depende exclusivamente do SUS. Segundo o vice-presidente da Abracro, Vitor Hirata, grupos internacionais vem perdendo o interesse em incluir o Brasil em suas pesquisas.

AGILIDADE À VISTA

Especialistas atribuem a a morosidade à falta de pessoal nos órgãos regulatórios, mas Anvisa nega que exista déficit nas equipes. Segundo a agência, o processo justifica a demora. Enquanto outros países analisam o plano de desenvolvimento como um todo e poupam tempo, o processo brasileiro demanda autorizações por etapas em três órgãos distintos. A boa notícia é que isso deve mudar: no início de março, a Anvisa fixou novas regras para a realização de pesquisas clínicas. Nos casos em que a agência não se manifestar em até 90 dias, o estudo poderá ser iniciado com aprovação das instâncias que avaliam os aspectos éticos.

A GEOGRAFIA DA PESQUISA CLÍNICA
Os países líderes mundiais em pesquisa aprovam juntos mais de 150 mil estudos por ano. Estados Unidos está no topo do ranking 


Quanto tempo leva para aprovar uma pesquisa clínica em cada país 


FASES DA PESQUISA 
De todas as moléculas testadas, menos de 10% chegam a ser apresentadas para registro como novos medicamentos 

FASE PRÉ-CLÍNICA
As moléculas com potencial para se tornar um medicamento passam por testes de laboratório em animais. Assim são conhecidos seus efeitos no organismo e sua toxicidade. Aquelas que apresentam perfil aceitável de segurança e potencial terapêutico são testadas em humanos. A seleção é rigorosa: menos de 1% das moléculas estudadas passam para a fase clínica.

FASE CLINICA
ETAPA 1
São realizados estudos em sua maioria com voluntários sadios (de 20 a 80 pessoas) para avaliar como o medicamento é absorvido, metabolizado e eliminado pelo organismo.

ETAPA 2
O medicamento é utilizado em pacientes com a doença a ser tratada. Geralmente o estudo é realizado com até 300 voluntários, com o objetivo de avaliar sua eficácia e tolerância. 

ETAPA 3
O novo medicamento é testado em milhares de pacientes. Os resultados são comparados com tratamentos já existentes e as informações registradas junto a autoridades sanitárias.

ETAPA 4
Após o registro do medicamento, são realizados testes adicionais para detectar efeitos adversos em um número maior de pacientes ou aprimorar o conhecimento da nova droga.


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