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A INFLUÊNCIA DAS INCIVILIDADES NA QUALIDADE DAS RELAÇÕES


Por: Telma Vinha
PROFESSORA DE PSICOLOGIA EDUCACIONAL DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP)
             Mariana Tavares Almeida
MESTRE EM EDUCAÇÃO E PARTE DO GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO MORAL DA UNICAMP

A polidez poucas vezes é valorizada em nossa sociedade. Uma pesquisa mostrou que adolescentes a consideram uma virtude menos importante. Contudo, como imaginar o mundo sem por favor ou desculpe? Ou repleto de desinteresse e interrupções bruscas? As atitudes polidas tornam as relações mais leves, agradáveis e acolhedoras. Já as ações que ferem o bom comportamento social, chamadas incivilidades, perturbam o ambiente e minam as relações dependendo da frequência e intensidade com que ocorrem.

Elas são o problema de convivência mais comum nas escolas. Sempre ouvimos relatos de professores estressados e desestimulados por sofrerem com atrasos, desatenção, bagunça e outras atitudes que contrapõem o código de boas maneiras. Identificar e entender as incivilidades os ajudam a lidar com elas de modo mais efetivo.

Para isso, o primeiro ponto é não confundi-las com transgressão (quebra de regras), condutas delinquentes (violências) e indisciplina, que são ações ou situações que interferem nas condições de aprendizado, como jogar forca durante uma explicação. Há também quem as veja como brincadeiras da idade, ignorando ou contendo quando atrapalham. Fazer isso não auxilia os alunos a compreender a necessidade do respeito, de se colocar no lugar do outro e de tratar bem seus pares.

O segundo aspecto importante no trato com as incivilidades é diferenciar aquilo que nos incomoda (forma particularizada, como gírias ou alguém mascando chiclete) dos atos que interferem no convívio de todos (perspectiva coletiva, como provocações constantes ou rispidez). As intervenções mais adequadas passam por encontros sistematizados com a turma para conversar sobre os problemas, sem nomear os envolvidos e dando espaço para que os estudantes digam como querem ser tratados e elaborem normas em conjunto.

Os docentes também podem levantar as incivilidades que mais perturbam as aulas e ordená-las pelo impacto gerado. Depois, eleger algumas delas, analisar as causas, refletir sobre como minimizá-las e criar protocolos de intervenções para condutas individuais e em grupo, para que todos os professores sigam, garantindo a coerência dessas ações, que devem ser pedagógicas e gerar o aprendizado do respeito, da empatia e da polidez.

Alguns elementos da gestão de aula contribuem para diminuir a incivilidade, como propor atividades desafiadoras relacionadas ao conteúdo com as carteiras em U e se aproximar dos alunos durante as tarefas para ficar atento às necessidades deles. Utilizar gestos e olhares que indiquem que o comportamento é perturbador, como chegar perto de quem está interrompendo ou tocar no ombro do distraído, também é válido. Outra estratégia é usar o bom humor, sem ser irônico.

Ignore condutas pouco problemáticas para não interromper a aula - muitas vezes, é o que o aluno quer. Evite embates desnecessários, como pelo uso de boné, e não dê castigos coletivos, que geram sensação de injustiça. Atos individuais são melhor resolvidos com conversas particulares do que com broncas em público. Nesses momentos, apresente o problema descritivamente para que o estudante reflita sobre as consequências de sua ação e perceba-se como parte do grupo.

Atuações pontuais não melhoram o convívio. É preciso usar um leque de estratégias e envolver a comunidade escolar para que todos entendam que a convivência ética é valor e tornem a escola um local que não combina com desrespeito.


ARTIGO retirado da revista NOVA ESCOLA - Ano 30 - nº 287, pág. 54. Novembro de 2016.

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