CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA GUERRA NUCLEAR!
 
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A seguinte matéria foi escrita por Rodrigo Turrer, publicada pela revista ÉPOCA em 20 de julho de 2015. Portanto, todos os direitos autorais pertencem exclusivamente a seus autores, e não devem ser copiados sem a divulgação de seus nomes.
 
"HISTÓRICO, PARA O BEM OU PARA OU MAL"
"O acordo entre Estados Unidos e Irã marca uma nova era. Pode ser o fim de uma ameaça nuclear - ou a ascensão de uma nação agressiva e terrorista"
 
 
"Em 1972, o presidente americano Richard Nixon, ao visitar a China, fez uma aposta arriscada: em plena Guerra Fria, pôs-se a dialogar e a se relacionar com um país comunista que havia construído um pequeno arsenal de armas nucleares e tinha claras ambições de projeção de poder no longo prazo. Mais de 40 anos depois, ainda é possível sentir os resultados daquela aproximação na relação de respeito mútuo entre chineses e americanos, mesmo quando discordam. Representa uma proposta igualmente arriscada o acordo firmado na semana passada entre o Irã e um grupo de países designado como P(5+1) - as cinco potências nucleares integrantes permanentes do Conselho de Segurança da ONU, Estados Unidos, China, França, Reino Unido e Rússia, mais a Alemanha.
Ao dar um voto de confiança ao Irã mesmo contrariando o Congresso e aliados regionais no Oriente Médio, o presidente americano Barack Obama abriu caminho para refazer um relacionamento complicado e contraditório. O acordo pode alterar a balança de poder no Oriente Médio e afetar a economia global.
O caminho para o acordo foi tortuoso e cheio de percalços. Há 23 anos, o Irã e as potências dialogam sobre o programa nuclear iraniano. Na última etapa, que culminou com um acordo na terça-feira, dia 14, foram 19 dias de negociações em Viena, na Áustria, com reuniões tensas, gritos e sussurros de ambas as partes. O acordo é complexo, cheio de minúcias. Nas 159 páginas do tratado, desfilam termos técnicos sobre isótopos, urânio enriquecido, centrífugas, água leve e pesada, regras para inspeções nas instalações nucleares, cronogramas. Nas palavras do subsecretário de Estado americano, Wendy Sherman, 'trata-se de um verdadeiro cubo mágico, em que todas as faces têm de estar alinhadas'."
 

"Pelos termos do acordo, o Irã concorda com limites escritos a suas atividades nucleares nos próximos dez anos, incluindo 12 meses sem produzir combustível necessário para uma bomba. Todas as sanções energéticas, econômicas e financeiras da União Europeia e dos Estados Unidos - e a maioria das da ONU - serão suspensas no 'dia da implementação do acordo', quando o Irã mostrar que cumpriu obrigações de reduzir o total de centrífugas e seu estoque de urânio, eliminando receios sobre o potencial fim militar do programa. A expectativa é que isso leve ao menos seis meses, de modo que o enorme impacto econômico do fim das sanções começará a se mostrar no primeiro semestre de 2016. Nesse ponto, mais de US$ 100 bilhões em ativos iranianos no exterior (bens e depósitos em dinheiro de cidadãos e empresas do país, retidos em razão das sansões) serão descongelados, e as exportações de petróleo do Irã devem disparar. Estima-se que o preço do petróleo caia e o país cresça 7% nos próximos dois anos.
Logo após a assinatura do documento, em Viena, Obama comemorou o acordo, declarando que ele cortaria 'todos os caminhos' que a República Islâmica tinha para tentar produzir uma arma nuclear. 'Graças ao acordo, estaremos pela primeira vez em posição de verificar todos esses compromissos. Significa que esse acordo não é baseado em confiança, mas em previsão', disse Obama.
O acordo é histórico, representa uma vitória da diplomacia internacional e uma conquista pessoal do presidente americano. Mas Obama se engana ou se faz de inocente ao dizer que conta apenas com supervisão e dispensa a confiança. Tanto se trata de confiança que só será possível medir a eficácia do acordo depois das inspeções internacionais. 'O acordo como o Irã só poderá ser medido pela régua da história conforme sua implementação', afirma David Rothkopf, presidente do grupo que edita a revista Foreign Policy. 'Se houver quebra de confiança de qualquer lado, o acordo pode naufragar'."
 
 
"Acordos de controle de armas, tais como os alcançados com a União Soviética durante a Guerra Fria, não acabam com desconfiança mútua ou hostilidade entre as partes. Precisamente porque os signatários não confiam uns nos outros, eles dependem de uma verificação rigorosa o suficiente.
Haverá muito a fiscalizar. União Europeia e Estados Unidos manterão as restrições ao comercia de tecnologia relacionada a armamento nuclear por oito anos ou até a Agência Internacional de Energia Atômica concluir que a atividade nuclear iraniana tem fins pacíficos. As restrições remanescentes da ONU a itens nucleares estratégicos devem ser revogadas após dez anos. Suspeitas de violações serão tratadas num processo legal e de mediação política, com uma comissão formada pelas potências internacionais e o Irã. O Irã poderá operar um numero limitado de centrífugas antiquadas e configuradas para enriquecer urânio a 3,7%, bem abaixo do necessário para fazer uma bomba.
Enquanto a verificação não acontece, impossível dizer em que vai resultar o tratado. No caso do Irã, o julgamento do acordo se baseia em três perguntas: ele torna o Irã menos inclinado a tentar produzir uma arma nuclear nos próximos anos? É severo o suficiente para que os iranianos receiem tentar trapacear? Existe uma chance razoável de ele dar uma solução duradoura para o problema nuclear iraniano?"
 
 
"Sejam quais forem as respostas, o maior efeito do acordo será na geopolítica do Oriente Médio. Aliados históricos dos Estados Unidos na região sempre se mostraram contrários ao acordo. O premiê israelense, Benjamim Netanyahu, classificou o tratado como um 'erro de proporções históricas', e foi além: 'O Irã vai conseguir uma bolada de bilhões de dólares, o que vai possibilitar que o país continua a exercer sua agressão e terrorismo na região e no mundo', afirmou. Um alto funcionário do governo da Arábia Saudita, maior inimiga do Irã no Oriente Médio, afirmou que o acordo será ruim se permitir que 'o Irã cause estragos na região'."
 
 
 "Israel, Arábia Saudita e outros países do Golfo têm a mesma visão: foram traídos pelos Estados Unidos. Em 2011 e 2003, na era George W. Bush, Washington derrubou governos no Afeganistão e no Iraque que serviam para conter o Irã. A saída de cena do Taleban e de Saddam Hussein criou um vácuo ocupado por Teerã. Mas o regime iraniano estava aleijado pelas sanções econômicas impostas por causa de seu programa nuclear. Com as sanções revogadas, o Irã será um país 'normal': receberá investimento estrangeiro, venderá petróleo e poderá investir em aliados. O temor de israelenses e sauditas é que o Irã, com sua economia pujante, amplie sua atuação na disputa por poder no Oriente Médio. Na Síria, no Iraque, no Líbano, no Iêmen, no Bahrein e na Faixa de Gaza, o Irã se opõe a Israel, à Arábia Saudita, ou aos dois.
Uma cláusula-chave do acordo é a preservação do embargo de armas da ONU ao Irã por pelo menos cinco anos. No entanto, esse embargo fez pouco para impedir que o Irã armasse e equipasse milícias no Oriente Médio, como a organização xiita Hezbollah, considerada terrorista por Estados Unidos e Israel. O temor é que Teerã ganhe alento para assistir milícias que operam no Iraque, Síria, Líbano, Gaza e Iêmen.
Mesmo com as ressalvas, um acordo com o Irã parecia ser a única saída possível para evitar uma corrida armamentista na região. Como analisou o Internacional Crisis Group, uma ONG fundada em 1995, voltada à resolução e prevenção de conflitos armados, 'é preciso louvar a paciente e persistente diplomacia que chegou a esse acordo, mas é preciso ficar atento, porque ele não resolverá os tantos outros problemas da região'. O próximo passo é encontrar uma forma de acomodar os interesses de Irã, Israel e Arábia Saudita no Oriente Médio - uma tarefa quase impossível."
 

A matéria acima foi retirada da revista ÉPOCA, edição nº 893, págs. 56, 57, 58 e 59. 20 de julho de 2015. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista ÉPOCA e a Editora Globo.
 
 

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