CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA CONFLITOS INTERNACIONAIS!


"UM ATROPELO À HUMANIDADE"
"No dia em que os franceses celebram a República, um terrorista avança com um caminho contra famílias inteiras em Nice"


"A Marselhesa, o hino nacional francês, começa com uma convocação: 'Avante, filhos da pátria'. Em seguida, avise sobre os perigos que se aproximam: 'Vêm eles até os nossos braços/ Degolar nossos filhos, nossas mulheres'. Foi assim, com todas essas palavras, que se entoou a canção na última quinta, 14 de julho, em Nice, no sul da França, para celebrar a tomada de Bastilha, uma prisão medieval que simbolizava o regime absolutista e cuja queda, em 1789, se tornou um marco da Revolução Francesa. À beira da praia, famílias com crianças, idosos e casais de jovem foram assistir aos fogos de artifício, desafiando o tempo ruim. Às 22h45, um terrorista dirigindo um caminhão branco saiu de uma rua próxima a um hospital infantil e encaminhou-se à orla. Em zigue-zague pela pista e pela calçada, o veículo de 25 toneladas atropelou dezenas de inocentes. Só parou quando o motorista começou a trocar tiros com policiais. Até o fechamento desta edição, já se contavam 84 mortos. Entre eles, dez crianças. No rastro de mais de 2 quilômetros de destruição, bonecas ao lado dos corpos, bicicletas quebradas e carrinhos de bebê abandonados davam pistas do horror que se instaurar no cenário pouco antes."



"O terrorista foi identificado como Mohamed Labouajej Bouhlel, de 31 anos, nascido na Tunísia e morador de Nice. Ele era casado e tinha três filhos. Vizinhos o descreveram como solitário, depressivo e também agressivo. Bouhlel vivia de bicos como motorista e alugou o caminhão na véspera do ataque. A polícia local informou que ele já havia sido fichado algumas vezes por agressão contra mulheres e brigas no trânsito, mas não fora incluído na lista de terroristas em potencial. Não era religioso e não frequentava mesquitas. Consumia álcool e carne de porco. Ainda assim, é grande a possibilidade de que se trate de terrorismo islâmico, até porque radicalização não é igual a maior religiosidade. Pode ser o chamado 'lobo solitário', que atua por si mesmo mas segundo a linha mestra dos representantes do seu fanatismo. Horas após o ataque, membros do Estado Islâmico (EI) comemoravam as mortes nas redes sociais."


"Nos últimos anos, a França tem sido um dos alvos mais cobiçados pelos terroristas islâmicos. Em 2012, um homem abriu fogo em um colégio judaico em Toulouse e matou quatro pessoas, entre elas três crianças. Em 2015, um veículo com dois passageiros invadiu uma fábrica americana de gás próxima a Lyon. Os terroristas tentaram explodir o local e feriram dois. Nos últimos dezoito meses, o país foi palco de sete ataques. Em janeiro de 2015, dezessete morreram depois que terroristas atacaram o jornal satírico Charlie Hebdo e um supermercado kosher em Paris. Em entrevista à televisão francesa na quinta-feira 14, pouco antes do atentado em Nice, o presidente François Hollande afirmara que não estenderia o estado de emergência imposto em 13 de novembro de 2015, quando 130 pessoas morreram em ataques coordenados a uma casa de shows, a restaurantes e ao State de Frande, onde acontecia uma partida de futebol. Na semana passada, um constrangido Hollande foi obrigado a voltar atrás. Na madrugada, depois do atentado, em uma declaração ao vivo, ele anunciou a renovação do estado de emergência. A medida garante a manutenção de 7 000 soldados nas ruas, para guardar escolas, sinagogas, estações de metrô e outros locais considerados sensíveis. Além de ter exigido reforço militar, a situação confere poderes extras às autoridades, permite a detenção provisória de suspeitos e atos de busca e apreensão."


"Na argumentação dos radicais, reverberada em jornais do mundo todo, a justificativa para os ataques é que se trata de uma revanche contra os bombardeios às bases do EI na Síria e no Iraque. O perigo  desse raciocínio é confundir causas com consequências. Mais do que se defender, o que o EI faz é atacar a civilização ocidental para destruí-la completamente. Além das vítimas em Nice, foram os valores instaurados na República francesa, como liberdade, igualdade e fraternidade, o alvo dos terroristas. 'O objetivo principal do Estado Islâmico com esses ataques é precisamente evitar a integração da população muçulmana na França e fomentar uma guerra civil sectária', diz o geógrafo francês Fabrice Balanche, especialista em Síria da Universidade de Lyon, na França."


"Ainda que os grupos terroristas islâmicos não tenham assumido a autoria do atentado nas primeiras horas, o ataque poderia ter sido feito por qualquer um deles. 'Poderia ser tanto o Estado Islâmico quanto a Al Qaeda da Península Arábica. Todos eles odeiam a França', diz o psicólogo especializado em terrorismo John Horgan, da Universidade Estadual da Geórgia, nos Estados Unidos. Nice, um dos principais destinos turísticos da França, é também um dos maiores focos dos jihadistas. Pelo menos 55 moradores do balneário e da região já se juntaram ao EI. Entre eles, há onze membros de uma mesma família. O governo criou uma unidade contra a radicalização e já fechou cinco casas usadas por fiéis sob suspeita de fomentarem o terrorismo islâmico.
Em relação ao uso de um caminhão para matar inocentes, não há surpresa. O método já foi utilizado por representantes de várias organizações. Em 2010, a Al Qaeda reforçou o chamado quanto ao emprego de veículos contra civis. Quatro anos depois, o porta-voz do EI, Abu Mohammad al-Adnani, disse em uma mensagem de áudio: 'Se você não pode detonar uma bomba ou atirar com uma arma, dê um jeito... Atropele-os com seu carro'."


"De todas as organizações, o EI é atualmente a que mais assusta. Como seus membros estão sendo bombardeados em seus territórios no Oriente Médio, o grupo tem reforçado sua atuação internacional. Isso pode acontecer de forma indireta, pelo incentivo a estrangeiros para que cometam atentados por conta própria, ou direta, pelo treinamento de militantes e planejamento de ataques. Só no último mês, o EI realizou onze atentados, que deixaram 505 mortos em oito países. Embora esta não seja a fase mais letal, é sem dúvida a mais internacional. Nunca os terroristas do Estado Islâmico atuaram em tantas frentes ao mesmo tempo."


A matéria acima foi retirada da revista VEJA - Edição 2 487 - Ano 49 - nº 29, págs. 60, 61, 62 e 63. 20 de julho de 2016. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista VEJA e a Editora Abril.


SUGESTÃO

Separamos um vídeo do momento exato em que o caminhão dirigido pelo tunisiano Mohamed Labouajej Bouhlel começa atropelar as pessoas em Nice. As imagens são fortes, mas demonstram a que ponto chega tamanha crueldade. As imagens são do YouTube.


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