CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA EDUCAÇÃO!
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A seguinte matéria foi escrita por Edmar Cialdine, publicada pela revista LÍNGUA PORTUGUESA: Conceito Prático. Portanto, todos os direitos autorais pertencem exclusivamente à revista e seus autores, e não devem ser copiados sem a divulgação de seus nomes.

"A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO (LINGUÍSTICA) DOS SURDOS"
"A história dos surdos e de sua educação, em grande parte, reflete a própria relação entre essa comunidade linguística minoritária e o modo como ela é vista pelas demais comunidades ditas 'normais'. É importante perceber que a luta pela igualdade de direitos dos surdos vem de muito tempo e reflete o desequilíbrio dessa relação surdo-ouvinte. Vamos discutir um pouco sobre como tudo começou e os principais fatores que levaram ao fato de hoje as línguas de sinais estarem no cenário dos estudos da linguagem"


"Para muitas pessoas, o indivíduo surdo é aquela pessoa que nasce com uma deficiência auditiva e que, independentemente de qualquer coisa, precisa de um tratamento médico numa tentativa de ser curado e ter uma vida normal. Essa visão biológica da surdez, hoje, está longe de dar conta sobre os estudos feitos sobre o tema nas várias áreas relacionadas (Psicologia, Educação, Fonoaudiologia, Linguística etc.). Como um grupo social que são, os surdos rejeitam termos 'surdo-mudo', 'deficiente auditivo', 'mudinho' para se assumirem como Surdos com 'S': pessoas com uma característica específica que as leva a terem uma visão de mundo particular e, como consequência, uma língua própria com toda cultura que lhe é inerente. Todavia, para que as coisas chegassem ao ponto que estão hoje, um longo caminho foi percorrido e, na verdade, uma longa caminhada ainda está por ser feita. Vejamos como isso se deu."


"O INÍCIO DA EDUCAÇÃO DE SURDOS"
"Acreditamos que existam surdos desde o começo da humanidade e que, devido à sua necessidade de comunicação, eles desenvolveram formas de linguagem gestual que serviram de base para as línguas de sinais. Porém, a falta de informações existentes é consequência do preconceito sofrido pelos Surdos principalmente na Antiguidade. A maior parte do que sabemos são inferências com base na sociedade em geral.
Durante esse período, as pessoas adoravam a perfeição do corpo e da mente. Aqueles que não nasciam perfeitos eram deixados para morrer ou mesmo sacrificados. Os raros sobreviventes eram tratados como animais. Ora, se a língua era vista como expressão do pensamento, quem não falava não pensava, dessa forma, não era considerado uma pessoa.
As atitudes só mudaram com o advento da Igreja, que punia quem sacrificasse um recém-nascido. De fato, eles ainda eram isolados da sociedade geral, mas aos poucos começaram a ser educados - mas apenas os Surdos filhos de nobres. Isso porque, para que esses Surdos pudessem ter direitos, precisavam saber ler e escrever.
Assim, por volta do século 16, houve as primeiras tentativas de educar os surdos com o surgimento de algumas instituições. Mas por volta de 1760 que o abade Charles Michel de L'Epée fundou a primeira escola pública para os surdos: o Instituto de Surdos-Mudos de Paris. A partir do contato que teve com os surdos que mendigavam pelas ruas de Paris, ele criou uma linguagem de sinais, tendo como base a gramática do francês. Esses sinais serviram como base para o Método Gestual de L'Epée."
"No mesmo período, na Alemanha, Samuel Heinick criou um outro método que seria base do Oralismo*. Para Heinick, apenas a oralidade permitiria que o Surdo fosse inserido na sociedade. Porém, Heinick não obteve o mesmo apoio que L'Epée e acabou por sair do cenário educacional. De feto, o movimento iniciado por L'Epée fez com que a educação dos surdos atingisse patamares nunca vistos anteriormente - tudo graças ao uso das línguas de sinais. Vale destacar a fundação da primeira universidade para surdos em meados do século seguinte, a Universidade Gallaudet, em Washington, nos EUA."

"O CONGRESSO DE MILÃO E A VOLTA DO ORALISMO"
"Apesar do notório sucesso dos métodos gestuais de ensino, em 1880 houve um congresso de Milão que causou uma reviravolta na história da educação de surdos. O famosos Congresso de Milão, a segunda conferência internacional sobre o tema, fez com que a oralização voltasse à tona com força total. Isso ocorreu graças a avanços tecnológicos como a invenção do telefone* e o advento de novas teorias de cunho biológico, em especial dos estudos de Fonética e da Fonoaudiologia. Com tudo isso a surdez voltou a ser vista como uma doença."

"A grande polêmica desse evento foi a exclusão de profissionais surdos e dos representantes da Universidade Gallaudet. Como consequência, não só o Oralismo voltou com força total, como ainda as línguas de sinais foram proibidas nas escolas de surdos. Por aproximadamente um século a educação de surdos sofreu uma queda em sua qualidade e o preconceito com os usuários de línguas de sinais levou a sérias atitudes punitivas (não raro, alunos tinham as mãos amarradas ao serem flagrados usando sinais)."


"O SURGIMENTO DA COMUNICAÇÃO TOTAL"
"A partir da década de 40, a preocupação com a interação aluno-surdo e professor-ouvinte levou ao desenvolvimento de uma nova filosofia de ensino, a Comunicação Total. Essa filosofia foi motivada, inicialmente, pelas pesquisas que começaram a surgir sobre as línguas de sinais. Porém, para a Comunicação Total, todos os recursos comunicativos são igualmente importantes: a língua oral, a língua de sinais, mímica, leitura labial, datilologia* etc."

"Apesar de essa teoria ampliar a visão sobre a surdez, não há uma valorização das línguas de sinais em sua história, cultura etc., e isso acabou por gerar diversos códigos gestuais que se confundiam com as línguas de sinais. Na prática, a Comunicação Total caba se tornando um passo para se chegar ao Bilinguismo."

"O BILINGUISMO E O CONTEXTO ATUAL"

"As pesquisas sobre as línguas de sinais, na década de 60, se desenvolveram com os trabalhos de William Stokoe. Esse estudioso da Língua de Sinais Americana comprovou que essa língua é tão complexa quanto qualquer outra língua oral. Desse modo, em 1987 a Federação Mundial de Surdos organizou um novo congresso, em Espoo, Finlândia, onde foi deliberado que o surdo teria o direito (e não o dever) ao uso da língua oral, mas também (e principalmente) o direito à sua língua de sinais. Tal atitude favoreceu o início da consolidação ao Bilinguismo*."


"Atualmente, o Bilinguismo está ocupando um grande espaço no cenário científico mundial. Nos EUA, Canadá, Suécia, Venezuela, Israel, entre outros países, existem diversas universidades pesquisando o tema. No Brasil, seguindo a tendência mundial, o Bilinguismo voltou à discussão na década de 80 e nos anos 90, começou a ser implantado nas escolas."

"E O BRASIL?"

"A história da surdez no Brasil segue caminhos semelhantes ao que houve no resto do mundo. Os surdos eram marginalizados pela sociedade até que, em 1857, foi fundado o Imperial Instituto de Surdos-Mudos (atual Instituto Nacional de Educação de Surdos*), no Rio de Janeiro, sob orientação do francês Hernest Huet, discípulo de L'Epée. O Instituto possuía um programa de ensino bastante completo apresentado no ano anterior ao imperador. Ensinava-se Português, Aritmética, Geografia, História do Brasil. Escrituração Mercantil, Linguagem Articulada, Leitura sobre os Lábios e Doutrina Cristã. Dois anos depois, 1859, os sete alunos de Huet fizeram exames públicos com resultados que deixaram o próprio imperador empolgado."


"Com o congresso de Milão e a proibição do uso de línguas de sinais, o Oralismo foi implantado na escola em 1911 e permaneceu até o início dos anos 80, época em que a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos foi fundada. A partir de então, as pesquisas sobre a recém-batizada Língua Brasileira de Sinais, LIBRAS e sobre educação bilíngue para os surdos se desenvolverem. As consequências da luta da comunidade surda, ainda que um pouco tardiamente, começaram a gerar frutos: a criação do dia do surdo, 26 de setembro; legitimação da LIBRAS em 2002 por meio da lei 10.436; o decreto lei no. 5626, de 11 de dezembro de 2005, que dentre outras coisas, inclui a LIBRAS nos cursos de licenciatura, Pedagogia e Fonoaudiologia; o surgimento dos cursos de Letras-LIBRAS em 2006 na Universidade Federal de Santa Catarina; e vários projetos de lei que implementam o ensino de LIBRAS nas escolas regulares."
"A EDUCAÇÃO DE SURDOS BRASILEIROS HOJE"
"De acordo com o artigo 58 da LDB, entendemos por Educação Especial 'a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais'. E segue em seus parágrafos iniciais:
1. Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela da educação especial.

2. O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular."

"O aluno surdo, portanto, pode estar inserido em duas realidades escolares. No primeiro caso, escola especial com sala de aula especial, só há alunos surdos na escola. A LIBRAS é a língua usada em toda a escola e os professores e funcionários devem ser fluentes nela. Como segunda opção, faz-se uso do intérprete de LIBRAS."


"Há, também, a realidade da escola regular com ou sem uma sala especial. Quando há uma sala só para surdos, o convívio entre alunos surdos e ouvintes se dá nos intervalos entre as aulas.
Dentro da sala, os alunos se comunicam por meio da LIBRAS com o professor ou com o intérprete. Quando não há uma sala especial, ou seja, surdos e ouvintes no mesmo ambiente, a presença do intérprete é obrigatória para realizar a comunicação com os alunos surdos, já que a atenção do professor está dividida entre os ouvintes e surdos.
Independentemente da modalidade, a escola (professores e funcionários) deve estar preparada para adequar-se à realidade assumida e apresentar coerência diante do aluno e de sua família. É preciso disponibilizar ao aluno a aprendizagem tanto da LIBRAS como, também, do português. Do mesmo modo, é importante a presença de professores surdos na escola e dar oportunidade dos pais aprenderem.
Levando-se em conta o currículo de uma escola bilíngue, sugere-se que tal currículo deva incluir conteúdos desenvolvidos nas escolas para ouvintes. A escola deve ser especial para surdos - ou seja, contemplar temas relativos à cultura surda e uma disciplina de LIBRAS -, mas deve ser, ao mesmo tempo, uma escola regular de ensino. Os conteúdos devem ser trabalhados em LIBRAS. A língua portuguesa deverá ser ensinada em momentos específicos das aulas e os alunos deverão saber que estão trabalhando com o objetivo de desenvolver tal língua. Em sala, o ideal é que sejam trabalhadas a leitura e a escrita da língua portuguesa. Se a escola optar por oralização, ela deverá ser feita fora do horário escolar e por especialistas.
Um professor de surdos competente deve conhecer os usos da LIBRAS para poder comunicar-se fluentemente com alunos surdos e ter contato com a cultura e a história dos surdos. Ele deve conhecer alguns detalhes típicos do dia a dia da sala de aula com alunos surdos como, por exemplo, a campanha deve ser luminosa e não sonora, deve haver um número reduzido de alunos na sala e, em sala especial, as cadeiras devem ficar dispostas em semi círculo; em sala de aula regular, os surdos devem se sentar sempre na frente. É imprescindível que o educador exerça um papel de mediador entre a realidade ouvinte e a realidade do aluno."


"E O FUTURO?"

"Por fim, é certo que as perspectivas futuras são positivas. Uma nova visão sobre a surdez tem surgido graças às pesquisas promovidas e à luta da comunidade surda por seus direitos. Entretanto, essa mudança profunda tem acontecido gradualmente. A educação inclusiva, por exemplo, na realidade, ainda está longe de seu ideal. O primeiro grande passo é a divulgação da problemática da educação de surdos para chamar a atenção da sociedade, em especial dos pesquisadores ligados aos estudos da linguagem e da educação."

FRANCISCO EDMAR CIALDINE ARRUDA é professor da Universidade Regional de Cariri, mestre em Lingüística aplicada pela Universidade Estadual do Ceará e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Lexicografia, Terminologia e Ensino [LETENS] e do Núcleo de Pesquisas em Linguística Aplicada [LiA], atuando principalmente com os emas Terminologia, Lexicografia, Surdez e Multimodalidades e Estudos clássicos. Contato: ed0904@gmail.com 



A matéria a seguir foi retirada da revista LÍNGUA PORTUGUESA - Conhecimento Prático, nº 31, págs. 10, 11, 12, 13 e 14. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista LÍNGUA PORTUGUESA e a Editora Escala.


"SUGESTÃO"
Separamos um vídeo que mostra a entrevista com um especialista que explica sobre a Educação dos Surdos no Brasil. O vídeo pertence à GLOBO NEWS, as imagens são do You Tube e o idioma, o português.





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