DOSSIÊ CÂNCER:
A PREVENÇÃO, A LUTA, A VITÓRIA

Houve um dia em que ter diabetes era uma sentença de morte - ou pelo menos de alguns membros amputados. A pressão alta, a garantia de um ataque cardíaco iminente. Ser portador de HIV, uma verdadeira arma apontada para a cabeça. Hoje, são doenças ainda graves, mas crônicas e controláveis - qualquer um pode conviver com elas e ter qualidade de vida, desde que tomados alguns cuidados.
A epidemia assustadora dos nossos tempos de vida longa e farta (inclusive de maus hábitos como fumar, beber, comer demais e não se exercitar) é o câncer e suas mais de 100 variações já identificadas. Um assunto que interessa a todos nas próximas postagens, que compreenderão um DOSSIÊ CÂNCER: A PREVENÇÃO, A LUTA, A VITÓRIAVocê lerá e verá que ter câncer não é uma loteria, mas sim uma probabilidade estatística. Esse diagnóstico vai aparecer para metade de nós nos próximos anos.
A cura definitiva da doença em qualquer estágio já foi cravada algumas vezes, e tema de notícias ou assuntos publicados neste blog. Hoje, cientistas de todo o mundo parecem convergir para uma solução menos milagrosa que um elixir mágico, e, por isso, mais plausível: manter o câncer sob controle. As últimas descobertas aplacam a fúria da multiplicação das células cancerosas e garantem uns bons anos a mais de vida, e o principal: com qualidade. Para que o câncer, muito em breve, seja a nova diabetes, metaforicamente, só nos impeça de comer alguns doces, mas não de viver.

TRATAMENTOS:
BATALHA SEM FIM - UM INIMIGO MUTANTE REQUER UMA LUTA EM VÁRIAS FRENTES. OS TRATAMENTOS MODERNOS CONTRA O CÂNCER TÊM POR OBJETIVO DOMAR COM A QUAL PRECISAREMOS CONVIVER


CONHECER PARA MELHOR COMBATER


Por: Sandra Chelmicki

Maria Elisabeth Athayde, professora aposentada de 74 anos, retirou um tumor do rim direito em 2001. Oito anos depois, uma mancha e um volume no céu da boca chamaram a atenção do seu dentista, e foram confirmados, posteriormente, metástases nessa região, na coluna cervical e no pulmão, indicando que, antes da operação, o tumor já havia alcançado a circulação e se instalou nos outros órgãos. Ela passou por radioterapia, em 2010, e foi indicada para participar de um projeto do Centro de Pesquisa Clínica do Hospital São Lucas, em Porto Alegre.
Hoje, o tratamento, que consiste em quimioterapia oral com everolimus, tem apresentado o resultado o resultado satisfatório, segundo o oncologista do hospital e presidente do Grupo Latino Americano de Investigação Clínica em Oncologia, Carlos Barrios. A professora consulta a cada 15 ou 20 dias e, de três em três meses, faz exames como tomografia e cintilografia. "São poucos efeitos colaterais, como unhas enfraquecidas e algum cansaço. Nada de enjoos ou sangramentos, como as histórias que ouço de alguns pacientes que passam por quimioterapia intravenosa, por exemplo", diz Elisabeth.


Ainda não conseguimos criar um remédio para cada gene ou mutação. Mas o sequenciamento do genoma humano já permitiu avançar na compreensão do câncer e personalizar alguns tratamentos. No futuro, a expectativa é de que cada tipo de tumor exista uma terapia específica, de acordo com suas particularidades bioquímicas e biológicas. Segundo Barrios, há 20 anos todos os tumores eram tratados de forma semelhante. "Agora, o manejo é mais inteligente e direcionado, baseado no conhecimento acumulado sobre a doença", diz. Um exemplo é a terapia-alvo, novo tipo de abordagem que identifica e ataca as células cancerígenas, provocando menos danos àquelas saudáveis.
Em muitos tumores, já é possível fazer testes genéticos para identificar subtipos e, com isso, diferenciar tratamentos. Em 75% dos casos de câncer de pulmão, por exemplo, há uma mutação no gene EGFR. Nesse caso, os medicamentos que mais funcionam - aumentam a sobrevida entre 60% e 70% quando comparados ao tratamento convencional, e reduzem os efeitos colaterais - são afatinibe, erlotinibe e gefitinibe. Já os pacientes com o subtipo que apresenta alteração do gene ALK têm mais chance de remissão quando tratados com crizotinibe ou ceritinibe. Esses medicamentos têm o benefício adicional de serem administrados por via oral.
Tumores de fígado que não respondem a procedimentos convencionais vêm sendo submetidos à radio-embolização, uma novidade na qual microesferas em partículas radioativas são introduzidas em uma artéria da perna, alcançando as lesões do fígado e matam as células cancerosas. Além de permitir uma sobrevida maior aos pacientes, o procedimento é ambulatorial e seus efeitos colaterais são reduzidos.
O Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, oferece o tratamento desde setembro de 2014. 'Primeiro, avaliamos o volume e a localização das lesões, a função do fígado e a quantidade de escape da partícula que pode haver entre fígado e pulmão', explica Frederico Costa, médico do Centro de Oncologia do hospital. Com intervalos mínimos de uma semana, são administradas as microesferas radioativas, conforme o planejado na fase de avaliação. 


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